Por Vitalina de Assis.
Tudo
está em crescimento desde o dia em que nos aventuramos naquela corrida insana e
quem sabe desleal, com os nossos pares para nos acomodarmos no útero de nossa
mãe e de lá para cá, é imperativo crescer.
Não
me recordo quando foi a última vez que postei por aqui, e isto é uma verdade
relativa, pois basta olhar a data da última postagem para situar-me.
Deixemos isto em outro plano, pois não é a ausência de publicação algo
relevante, a relevância está em ter ou não algo para dizer. Outra relevância
pontua-se: quem neste mundo, não teria algo a dizer? É mais relevante pensar
que, talvez não se encontre quem queira ouvir ou se importar, e isto também se
torna irrelevante, já que possuo dois ouvidos, dois bons vizinhos para uma
única boca.
Você
pode estar incomodado com a minha redundância e insistência na arte de relevar,
mas deixe-me adjetivar em paz e desista de contar quantas vezes fiz uso desta
palavra, porque isto também não tem relevância alguma. O que me move são
momentos, pouco a ver com “inspiração”, porém, muito a ver comigo. A escrita me
constrói e desconstrói na medida em que permito e hoje, dou-me a este desfrute.
Nada me revela mais do que as letras que desenho livremente em um fluxo quase
ininterrupto, João Cabral de Melo Neto disse: “Escrever é estar no extremo de
si mesmo,” e de fato o é. Então, de muito pensar nesta ausência criativa por
aqui, embora por cá, fora deste limite que se impõe, meu ser borbulha de
ideias e questionamentos internos, não que eu possua dúvidas quanto ao que vai
em minha alma, no entanto permito que as do entorno, se apresentem.
Sou todas as respostas de que necessito. Basto-me eu em meu ser, supro-me eu em
meu ser. Sinto-me implodir em mim, sem desconstruções, poeiras e entulhos
naturais de uma implosão. Sou construção, sou descoberta, estou
inteira. Estou perplexa! Incompletude sempre foi a minha essência,
então o que eu fiz com ela afinal? Onde abandonei a incompletude? Como não
percebi tê-la largado em algum lugar? Quando me completei?
Um
dia destes e deste momento não tenho a mais insignificante lembrança, larguei,
joguei, perdi, fui roubada, sei lá - um pacote ofício pardo contendo relatórios e um artigo em PDF -
Os 72 Nomes de Deus - uma tradução que fiz do espanhol que evaporaram-se, de minhas mãos e de minhas lembranças. Não fosse o caso, de um documento
específico estar no meio e ser requisitado em um tempo posterior, minha memória
talvez jamais se lembrasse de tal pacote. Fui abduzida neste dia. Juro, de nada
me lembro do após - tomando-o em minhas mãos e seguir para casa.
Quão
grato seríamos se alguns eventos de nossa existência, fossem evaporados assim.
Consegues enumerá-los para abdução? Fato é que fiquei
preocupadíssima com minha responsabilidade, pois só poderia caber à sua
ausência o meu ato de perder, esquecer e sequer lembrar-me, porém tudo passa e
nada permanece imutável nesta nossa existência efêmera. Depois de tantos: “não
sei o que aconteceu e nem tudo, se pode resgatar”, descansei, melhor, aceitei o
que eu não poderia mudar de jeito algum. Aceitar parece um verbo
descontextualizado em nosso viver, mas é perfeito para se conjugar e quando
compreendemos isto, a leveza reside na porta ao lado e a culpa, sabe-se lá por
onde anda.
Aceitação
não é sinônimo de acomodação, mesmo porque nossa natureza respirante tende a
relutar ao novo, a ser resistência para o que se achega. Do conforto, haveremos
de desconfortar em algum episódio de nossa existência e isto é tão mágico
quanto surpreendente. Pense nisto. Aceitação é crescer dando-se conta desta
expansão, que não é, e nunca será apenas corpórea, no entanto, muitas vezes
sutil passa ao largo até que as medidas extrapolam e nos descobrimos à deriva
de nós mesmos, à espera de um resgate, ou plenamente integrados à nossa essência
de luz.
João Cabral de Melo Neto...muito bom! Escrever é também desafagar a si nessa extremidade! beijos
ResponderExcluirOlá Ives.
ExcluirDesconheço algo mais libertador, mais generoso para conosco do que saber externar o que nos aflige, seja na escrita, na arte, nas lágrimas, no esvaziar-se.
Muito obrigada.
Abraços.
Cida excelente post. Poderiamos ter o dom de esqueçer aquilo que nos marcou negativamente mas como ainda não temos esse dom vamos continuar a caminhada avessamente.seu fã sam
ResponderExcluirOlá, acho que é a Maria Regina, não?
ExcluirMuito obrigada amiga. Penso que o dom de esquecer aquilo que nos causou dor, não seria muito profícuo, isto porque seja bom ou ruim, nos moldou na pessoa que somos. O que precisa ser de fato esquecido é a mágoa, que envolve ou envolveu o evento. Perdoar é deixar ir embora a dor e assimilar algum conhecimento, aprimorar nossa existência.
Abraços.
Texto maravilhoso!
ResponderExcluirMuito obrigada.
ExcluirAbraços.
Muito interessante seu texto, faz dar uma volta em nossas vidas somente em poucos parágrafos. Pensamentos divertificados que nos pensar. Belo ponto de vista da autora. Parabéns
ResponderExcluirOlá, muito obrigada.
Excluir"O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa quando começa a pensar". Voamos de fato, e discordo, o pensamento jamais será uma coisa atoa, o pensamento é a força capaz de criar tudo o que existe e ainda está por existir.
Abraços.