quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Percebendo-se.


Por Vitalina de Assis.


Viver e a nossa concepção de vida, é um exercício individual em meio a coletividade e  a medida em que a vida  nos ensina e vivenciamos este aprendizado, vamos mudando nossos conceitos, abrindo mão disto ou daquilo, apropriando de novos valores, mudando nossa conduta, pensamentos e sentir. O que era essencial torna-se muitas vezes supérfluo, e o que achávamos inalcançável, bate a nossa porta ... deixamos entrar, percebemos mudanças, somos a mudança.

É aquele exercício contínuo de tentar manter em ordem o nosso entorno, para que o nosso interior fique organizado também. Existem dias em que perco o foco na organização, vou largando uma coisa aqui, outra ali, relaxo. Fora de mim, observo este comportamento questionando-me... por que? Penso que pode ser a falta de alguém ou algo que me exija ordem, entretanto percebo ser isto, um estar alheia a mim mesma minimizando minha importância. Paro, centralizo-me e aí consigo me reorganizar. Este é um exercício diário, semanal, mensal, uma vida inteira. 

Inúmeras vezes deixamos de  mirar-nos nos espelhos do sentir, não damos ou exageramos a atenção a determinadas situações e isto, longe de  fazer-nos bem, coloca-nos a deriva de nós mesmos, perdemos o foco, ficamos desorientados e vamos sendo arrastados pela correnteza que impera e convenhamos, ninguém gosta de ser arrastado desta forma. Correntezas são um espetáculo a parte e algumas vezes, fatal. Melhor observar, deixar que siga seu curso permitindo que carregue nossas angústias, este sentir que tanto incomoda e que possui seu "time". Prolongá-lo em um abraço que já perdeu seu calor e propósito, diminui consideravelmente nossa energia. Daí a dificuldade em ordenar o que caótico está.

Viver também é ter. Ter tempo para si, ter tempo para se permitir, ter tempo para puxar as rédeas, ter tempo para mudar o rumo do que cansou o pensamento e viciou  princípios. Ter tempo para voltar atrás, não feito caranguejo que não sabe a que volta. Voltar, muitas vezes é um reiniciar ao contrário. Nada justifica o medo de recomeçar e dos escombros, talvez construir algo novo ou ainda, conjugar o desapego, sacudir a poeira, seguir sem culpa. Ter tempo para possuir coisas sem amontoá-las desatinadamente como degraus de uma escada, que não leva a lugar algum. Possuir não deveria ser um fim em si e embora, orgulhosamente caracterize propriedade, do que é mesmo, que somos "senhor"?

Louco! esta noite te pedirão a tua alma;
e o que tens preparado, para quem será?”

Nada levaremos deste mundo, a não ser o que conseguimos interiorizar e que melhorou-nos como pessoas. Por aqui, ficam as nossas vestes, nosso pó, nossa máscara.