Meu pai e eu!
Meu pai que se chama Antônio Luiz, completou oitenta anos e nesta
oportunidade, gostaria de agradecer pelo cuidado e presença constante e principalmente
por fazer de mim, esta mulher do bem, que sou.
Ele teve uma infância muito difícil, sofreu com racismo, pobreza,
não soube quem era o seu pai, ficou parte de sua infância em um orfanato e
quando pensou que seria feliz em uma família adotiva, vivenciou momentos de
abandono e maus tratos, mas soube proporcionar uma infância feliz e plena aos
seus cinco pimpolhos. Lembro-me dos nossos passeios nos finais de semana, nas
muitas andanças por ruas e praças do bairro Padre Eustáquio em Belo Horizonte, terminando
sempre na estação do trem e em passeios de locomotiva. Outras vezes, levava-nos à Base Aérea para vermos os aviões por fora e por dentro, os caminhões que ele dirigia, o seu local de trabalho, as árvores que havia plantado pelo quartel e
ficávamos horas vendo as aeronaves decolando e aterrissando. Era uma festa!
Minha mãe ficava tranquila no sossego do lar e quando chegávamos
com uma fome de leão, já estava pronta aquela comida gostosa que dona Dilma
fazia no capricho. Como não lembrar-me da maionese toda enfeitada que o senhor
fazia questão de preparar no domingo? Era comer com os olhos esperando a Luíza
colocar primeiro a metade no prato dela - irmã mais velha, na nossa infância,
era quase uma super Nany de vestidinho, e só depois de comer com os olhos, (ela
demorava uma eternidade neste ritual) era a hora de comer rezando.
Quando fazíamos nossas travessuras (e não eram poucas) "deixa
o seu pai chegar", sentenciava a Dona Dilma e achávamos a maior graça,
parecia até que o fim de tarde, a bendita dezessete e trinta nunca chegaria,
mas chegava e lá pelas dezessete, nosso coração parecia pulsar nas mãos, nosso
medo aflorava e a Dona Dilma só observando nossa metamorfose de peraltas, à anjinhos do pau oco. Meu pai de farda azul da Aeronáutica, parecia o castigo em
pessoa marchando em nossa direção. E antes que fosse dado o tal recado pela
minha mãe, já estávamos todos em fila angelical, a bênção meu pai - a mão
paterna estendida e o beijo de um a um estalando sobre ela, deveria ser o suficiente para colocar de volta o nosso coração no peito e afastar de vez, a maldição da
sentença materna: "deixa o seu pai chegar".
Devem estar imaginando a esta altura, um pai violento, do tipo que
bate, não assopra e ainda promete bater mais, batendo? Nada disto. Meu pai chegava
tranquilo, tomava seu banho, jantava com os filhos à mesa e tratava de ir para
a cozinha e enquanto minha mãe lavava as louças e como não poderia deixar de
ser, relatava tudinho, tim tim por tim tim. Nosso coração, novamente nas mãos, petrificava!
Ouvíamos o nosso nome, geralmente eu era a primeira, como assim? E a irmã mais
velha? Só servia para comer a maionese primeiro? Mas verdade seja dita, ninguém
fazia mais bagunça do que eu, e olha, tenho histórias de arrepiar para contar,
mas fica para outra oportunidade, prometo. Então eu puxando a fila, meu pai o
gigante Golias em pessoa na minha frente e a correia ou vara de marmelo na
mão???? Não!!!! Apenas o dedo indicador erguido. Céus que medo!!!
- “Vem aqui, chega mais perto”.
Parecia que eu ia sucumbir em um desmaio fatal.
- “Mais perto, mais perto”.
O dedo indicador pesando mais de uma tonelada batia solenemente
umas três vezes na minha testa:
- "cuidado, viu? Muito cuidado"!
TERMINOU!!! Saía eu da fila chorando muito, meu irmão vinha em
seguida e assim, um a um éramos disciplinados e nossa mãe de olho acompanhando
tudo. Outra sessão como esta demoraria anos. Bastava lembrar do dedo indicador
pesando na testa, e todas as coisas ficavam nos seus devidos lugares: filhos
respeitosos, pais amorosos e uma família unida. Nunca tivemos um
desentendimento qualquer, nenhum vício, nada que pudesse contrariar os bons
princípios que nos foram ensinados.
É por isto, por um pai que foi e é um exemplo em todas as suas
atitudes e princípios, que eu venho prestar esta singela homenagem.
Parabéns Seu Antônio! Feliz dia dos Pais e que esta data e outras
tantas te encontrem em saúde, paz e repleto das bênçãos divinas.
VOCÊ É MEU EXEMPLO! Te amo!
Belíssima homenagem!
ResponderExcluirEu já não tenho o meu mas meu pai foi fantástico!!!bj
Muitos parabéns ,que Deus lhe continue iluminando a sua vida ,muitos beijinhos felicidades
ResponderExcluirParabéns Cida... Que privilegio esse paizão!!!!
ResponderExcluirLinda história....
ResponderExcluirParabéns
Uma homenagem cheia da ternura que o seu pai merece. Parabéns pelos 80 anos que fez. Que tenha muita saúde.
ResponderExcluirGostei do texto.
Boa semana.
Um beijo.