quarta-feira, 26 de julho de 2017

Eu essencialmente.


Por Vitalina de Assis.





Há alguns anos tive um casal de vizinhos amigos, a mulher se chamava Maria e o marido Santos. Ele possuía uma maneira peculiar de cumprimentar que me incomodava muito, sempre dizia oi seguido de uma pergunta: - Oi, você está feliz? Aquilo me irritava, pois me levava ao consenso comum, “felicidade não existe, existem apenas momentos felizes” e aquele, particularmente, não me parecia um momento feliz. Nunca fui capaz de expressar o incomodo que esta pergunta me causava, pois ele me parecia uma pessoa demasiadamente feliz ou meio louca e o mais interessante é que nunca me esqueci deste fato. Os anos passaram e eu era a prova incontestável de fragmentos esporádicos de felicidade aqui e ali, pois na maior parte do tempo, eu me sentia uma ET perdida no planeta Terra, infeliz por natureza, apesar de...

Então comecei a fantasiar: e se tivesse isto ou aquilo, e se fizesse desta ou daquela maneira, e se vivenciasse um amor escrito nas estrelas, finalmente a felicidade faria parte do meu ser. Estava a milhões de anos luz equivocada, no entanto viver é uma escola que não permite evasão de sua classe e suas disciplinas aprender-se-ão, e não importa o tempo que se leve para isto. Meu espírito sempre fora irrequieto, insatisfeito, questionador e minha pessoa um tanto acomodada, mas como poderia ser acomodada e irrequieta ao mesmo tempo? Acredito ter sido esta dicotomia um algo a mais a mover-me e em conflitos constantes, via-me buscando o real motivo que justificasse minha suposta infelicidade.

Vi-me incontáveis vezes de volta à infância ouvindo minha mãe adjetivando um corretivo, “ô sua infeliz! Vou te colocar de castigo”.  Eureka! Estaria aí, o real motivo da minha infelicidade? Então a culpada era a minha mãe, pensava eu com os meus botões e santa ignorância. Ausentes os meus botões e um pouco mais madura minha santa ignorância, percebo perfeitamente que o único responsável (propositalmente substituo o termo culpado, uma vez que o  sentimento de culpa pode levar-nos a uma postura estacionária, ao passo que assumir uma responsabilidade, nos torna consciente de que o processo de mudança é arrojado e pessoalíssimo.) em nosso “pequeno” universo por tudo o que nos afeta, somos nós mesmos. Nós criamos nossa realidade, nossa vida, nossos sentimentos e as tantas “angústias” que vamos colhendo em nossas terras, são nossas sementes cultivadas com propriedade, se dê conta disto.   Entretanto adoramos culpar A ou B por nossos infortúnios, como se coubesse a este ou a aquele a sagrada missão de nos destruir, rotular, roubar valores, nos varrer do planeta. É certo que enquanto crianças (alguns adultos ainda são assim) não possuímos um filtro, não somos capazes de dizer não ao que nos magoa, mas logo saímos da infância e então a questão, invariavelmente, vem às nossas mãos.  É pegar e administrar ou largar e se “contentar” com a infelicidade perpassando por uma existência que possui o direito inalienável e a obrigação de ser feliz, porém desconhece ou rejeita este fato.   A vida, com sua  generosidade inquestionável ensinou-me a pegar e administrar, (confesso que demorei um pouco para colocar a mão neste arado, mas reconheço o tempo hábil para todas as coisas.) pois tudo são fases e o desejo de me encontrar, de me sentir parte de alguma coisa, de ser feliz tornou-me um ponto convergente.

O Universo se posicionou para conduzir-me por uma aprendizagem que culminaria em algo muito especial e duradouro. Comecei a meditar, praticar yôga e principalmente ler alguns autores. Perceber-me como um ser único, sem cópia por este planeta afora me deu a real noção do meu valor e passei a me amar e me perdoar incondicionalmente. Comecei a exercer a gratidão por minha existência, a aceitar-me exatamente como sou, independente do olhar e conceitos que eu outrora praticara (é impressionante o peso da nossa própria aceitação, é uma chave poderosa a destrancar as mais ferrenhas cadeias) e de repente me vi extremamente feliz em um todo e não em fragmentos felizes. Hoje compreendo a natureza da minha essência e que não é uma prerrogativa pessoal, mas inerente a todo ser humano, ou seja, ansiamos por vivenciar os sagrados atributos da divindade que habita o nosso ser que são: harmonia, beleza, amor, paz, alegria, felicidade e todas as dádivas da vida que vêm de uma Única Fonte,  que também nos busca. 


Ser feliz não é apenas um estado de alma, é antes de tudo uma atitude e o resultado do reconhecimento de que se estou aqui, é para ser feliz. É a  apropriação de um princípio imutável: o princípio da alegria, felicidade, pois não há um princípio de tristeza, então não permito mais que se aloje em mim algo menor que uma felicidade absurda. Meu estado de alma é felicidade, gratidão, paz e harmonia. Não me critico por nada, e quando penso em fazê-lo, gentilmente agradeço a sugestão inferida e me permito um agrado verbal, declaração de amor à minha pessoa a tempo e fora de tempo. Creio que o trilhar da felicidade passa por este viés quando nos amamos de fato, sem espaços para críticas que nos remota ao passado, (cuidado, este adora nos seduzir) repetindo e repetindo os mesmos erros. Me aceito e me amo incondicionalmente e sendo assim, abro espaços para que os princípios imutáveis residam em mim. Permita-se. 

13 comentários:

  1. Permita-se sentir mergulhar no desconhecido, tentando amar e ser amando,caminhando acertando e errando,mas jamais podemos ter medo de ser feliz ,belíssimo momento beijinhos no coração felicidades

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    1. Oi Emanuel.

      Sentir, amar, acertar, errar, são verbos que conjugamos por toda nossa existência e o medo não é um verbo, não é mesmo? Desejar sim e se desejamos o bem à nós e aos outros, a felicidade nunca há de nos faltar.

      Muito obrigada por seu comentário. Sorria sempre.

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  2. Belo pensamento ...e viva a vida !!! O amor sempre prepara algo novo para nossa alma...

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    1. Oi Samuel.

      O Amor é uma força criadora, um fenômeno cósmico, que abre aos homens o mundo das situações e coisas maravilhosas.

      Jesus nos deu um novo mandamento: "que vos ameis uns aos outros" e quando assim o fazemos, este amor que é a manifestação de Deus, a força mais forte e magnética do Universo, atrai até nossas vidas, o melhor que nos pode ser oferecido.

      Muito obrigada por comentar.

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  3. Oi Vitalina.

    Que lindo e profundo é o seu texto. Você tem uma habilidade incrível de nos provocar reflexões, mexeu com os meus sentimentos, pode acreditar.

    Pensar na felicidade como algo interno e não obra de acontecimentos externos, me leva a avaliar como anda minha relação comigo. Temos uma tendência tão absurda de viver em função de outros que nos esquecemos de nós mesmos. Parei para avaliar meu comportamento e devo isto a este belo texto. Tô em falta comigo, mas já tomando providências. Bjs. Muito sucesso e luz.

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    1. Oi Lara. Muito obrigada por seu comentário. Fico imensamente feliz por ter-te proporcionado momentos de reflexão, é tão bom quando isto acontece, não é mesmo?

      Tenho lido excelentes autores e os mesmos tem me favorecido uma excelente oportunidade para rever meus conceitos, permitindo assim uma agradável mudança interior. Sou muito grata a isto e a todos eles. Sorria sempre. Bjs.

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  4. Sensacional este texto. Eu preciso aprender a ser mais paciente e amorosa comigo, acho que tenho alguns traumas de infância. Tive uma infância meio bagunçada, meus pais brigavam muito e eu ficava com muito medo de tudo aquilo. Tudo que escreveu mexeu muito comigo mas me encheu de paz tambem. Vou ter q ser mais tolerante comigo pra poder ser feliz de verdade. Você é muito certeira com o que escreve. Parabéns. beijinhos.

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  5. O simples fato de existirmos, já predispõe a felicidade. Evitemos expectativas à outros senão à nós mesmos. Parabéns!!!

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    1. Oi Renim. Concordo com você. O maravilhoso fato de estarmos vivos, já é em si, a plena expressão da felicidade, embora muitas pessoas não se deem conta disto. Muito obrigada por comentar. Sorria sempre.

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  6. Suas palavras nos fazem refletir e sentir mais vontade. Uma forma de incentivo à NUNCA DESISTIR "obrigada minha amiga"

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    1. Oi Rayane.

      Muito obrigada por seu comentário e desistir... jamais, não é mesmo?

      Sorria sempre. Bjs.

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  7. Fantástico texto de reflexão! A verdade é que você encontrou o seu jeito de se conhecer. E isso a ajudou a viver consigo mesma.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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    1. Oi Graça, acho que você tem razão. A partir do momento em que travamos uma amizade e conhecimento profundo com nós mesmos,ficamos mais receptíveis aos bons sentimentos.

      Bjs.

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