segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Devora-me!


Por Vitalina de Assis.




Nada no mundo das minhas fatigadas retinas,  pareceu-me assim tão provocante! Uma costa desnuda, braços nus adornando tão belo corpo e uma insinuante saia a cobrir, generosas ancas. Pensei em fixar meu olhar e ficar ali apenas contemplando, desejando tocar. Imaginar o rosto que possuía tal corpo, poderia ser um exercício formidável para minha imaginação, reinante em campos, agora inférteis. Outrora, tão imaginativa levaria meus desejos e dedos para outra esfera, outro furtado sentir.

Fechei meus olhos, apelei aos céus do meu encantamento para que chovesse e fizesse brotar de vez, todo prazer recolhido em anos já idos. Esperei. Esperei. Nem chuva, nem encantamento, nenhuma semente a germinar. Fiquei estático! Meu sentir congelado enrijecia meus ossos, uma ironia tamanha, já que não eram ossos estalando, que eu desejava enrijecer. Deixei correr livremente o sangue impetuoso a irrigar rugas mortas, revivê-las em força e aquecer meu sofrido e amortecido viver. A idade pesa sobre o coração que um dia amou, extasiou-se e trancou no esquecimento emoções tão vívidas, tão intensas! Ficaria por horas buscando na memória lembranças adormecidas no passado, entretanto, a bengala que escora passos vacilantes, enrijeceu-se, fugiu do meu controle. Desejou tocar, descobrir o oculto, desvendar o rosto, compreender em olhos, boca, seios, a intensidade do prazer que por mim passava como  brisa em sonhos noturnos e com a força de um exército, moveu aquela moldura.

Abri meus olhos, arregalei meus sentidos, contemplei um par de seios jamais vistos. Como setas indicativas apontavam estar ali, a força capaz de erguer-me. Mirei aqueles olhos desafiadores que sussurravam nitidamente: "decifra-me ou devoro-te". Que forças possuía eu para decifrar algo tão surreal? Tive ímpetos de quietude, desejei ser devorado a todo custo, não tinha pretensões de decifrar o indecifrável.

Fechei os olhos enquanto a bengala caia frouxamente de minha mão. Senti um hálito quente em rugas tensionadas e um visível tremor, a percorrer  meu corpo, não deixou-me outra alternativa e sequer buscaria uma. Devorou-me!

10 comentários:

  1. Querida, que beleza de textos.Escrevestes lindamente! Parabéns! Saio daqui encantada pela sensibilidade e inspiração.
    Brisas e flores para você.Bjs Eloah

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  2. Oieee Vi!

    Mas que maravilha de texto!
    Todo ele sensualidade com uma magem que faz pensar imenso...E porque não dizer, também contive um sorriso que começava a despreender-se...
    Vamos postar mais vezes. Precisamos de lufadas diferentes!
    Grande abraço querida

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  3. ...não sei se o comentário ficou Vi...
    Beijinho!

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  4. Vitalina,quantos textos maravilhosos em seu blog!Uma escritora de muito talento,foi um prazer te visitar!bjs e meu carinho,

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  5. Li vários posts, de prosa e poesia, e gostei muito de tudo. Foi fácil concluir do teu grande talento para a escrita.
    De negativo, apenas o facto de não publicares há algum tempo (mais no outro teu blogue).
    Vitalina, obrigado pela tua visita. Volta sempe.
    Beijo.

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  6. Comentário de Márcia Fernandes Vilarinho Lopes em 22 outubro 2012 às 23:08
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    Uma colocação original e surpreendentemente bela. Parabéns. Beijos

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  7. Comentário de Manuela Vieira em 22 outubro 2012 às 19:30
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    Gostei do devaneio da memória, tão real de quem a está a perder. Uma surpresa autêntica.

    Bjos.
    Manuela

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  8. Comentário de Luiz Mário da Costa em 22 outubro 2012 às 18:11
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    - ..caramba; fantástico. Palmas mas muitas palmas mesmo. Enquanto buscamos insaciavelmente formato poemine para as imagens; eis que uma imagem agiganta e coloca os poeminis no bolso rsrsr

    Vitalina menina, shou de bola, uma inspiração digna de destaque: "a idade pesa sobre o coração/capaz de erguer-me" que versos heim poetisa de sorriso explícito.

    Beijos.

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  9. Comentário de JOSÉ CARLOS RIBEIRO em 22 outubro 2012 às 18:06
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    um maravilhoso poema desejoso, prazeroso, lindo demais

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