Me voilà! Aqui estou eu!
Por Vitalina de Assis.
Como
já passei dos quarenta e parece-me que os cinquenta, possuem outros tons, então
poeticamente, reformulo um conceito do qual nos apropriamos: a vida não começa
aos quarenta, como dizem por aí. Nosso segundo turno começa a partir do momento
em que compreendo a generosidade do viver, seja em que idade for. Entretanto,
reconheço ser verdade que aos cinquenta, a leveza do existir exige que se
recolha a âncora e que ao sabor de suaves ventos, nossa embarcação deseja
bailar. Danças comigo?
E
exatamente como o segundo turno da nossa jornada de trabalho, passa tão
rapidamente que mal temos tempo para um lanchinho e, quando assustamos, já se
encerrou o expediente, foi-se o dia. Então deixamos a mesa meio
bagunçada, porque tem dias em que não vale a pena ficar nem mais um segundo,
entre papéis e pessoas que ficam mais tempo conosco, do que as queridas do
nosso núcleo familiar. Atentar para o segundo turno de nossa existência é estar
consciente de que a vida espera maior desenvoltura, respeito e a habilidade
para se reinventar.
Acabei
de assistir o filme, "Dança comigo?" E devo confessar uma coisa,
desta vez doeu! Sempre achei este filme maravilhoso. Richard Gere um homem
perfeito, delícia para mulher nenhuma colocar defeito e seus passos para
descobrir na dança que a Vida, por mais perfeita ou imperfeita que seja, não
precisa estar engessada até que a morte nos separe amém, é inspirador.
Como?
Foi a pergunta da esposa para o detetive: - Como uma pessoa que há vinte anos faz
todos os dias as mesmas coisas, sente a necessidade de fazer algo diferente? E
pensei naquele desconforto, uma insatisfação interior quase como se fosse um
feto sendo gerado em nossas entranhas, que não compreendemos a que veio ou
aonde quer nos levar. Como lidar com isto?
[...] A alma tem d’estar sobressaltada pra o
nosso barro se sentir viver.[...]
[...] E quem quiser a alma sossegada fuja do
mundo e deixe-se morrer.[...]
(Amar ou odiar – Fausto Guedes Teixeira)
É
isto! O segundo turno de nossa existência requer mais cuidado,
requer mudanças de hábitos arraigados, requer jogo de cintura, requer
desconforto. Requer maior grau de paciência, mais doçura no olhar, mais
compreensão na alma e decididamente, mais “des-propriedade”, aquele total
descompromisso com a pose do outro, com as coisas do outro, seja ele parceiro
ou filhos. "Ninguém é de ninguém, na vida tudo passa", cantou o
poeta. Chegou o momento de alforriar coisas e pessoas, alforriar ideias e
conceitos, alforriar roupas e sapatos, alforriar este molde de vida, no qual
não se cabe mais, porque você cresceu! Crescer causa dor, desapegar é doído.
Dói compreender que nu viemos ao mundo e que despidos, de tudo e de todos,
sairemos dele.
Quando
o que mais nos importa, é ausentar-se de todos e do mundo, recolher-se a dias e
momentos que nos aprisionam em um espaço físico tão restrito no qual sequer,
podemos alongar músculos e ideias e ali ficamos hibernando em pleno verão, é
hora de acordarmos para a vida generosa que ainda nos tem, em caminhos
desafiadores.
Quanto
ao filme: por que se casam? Por que as pessoas não querem ficar sozinhas?
Pergunta e revela a esposa, para o detetive: “porque precisamos de espectadores
para a nossa vida, alguém que nos assista, compreenda, nos apoie, se importe e
que esteja presente”. Aí doeu! Tenso! Naquele dia e momento específico,
doeu.
Hoje
meu olhar otimizou, enxergo contornos que a debilidade da visão proporciona.
Quanto mais se precisa de lentes para melhor enxergar, mais acurada fica nossa
forma de ver e perceber o mundo. Os espectadores para a nossa vida, alguém que
nos assista, compreenda, nos apoie, se importe e que esteja presente, não é,
necessariamente, a condição de estar pareado a alguém. Nem sempre
trata-se de um outro.
Nosso
segundo turno é o exato momento em que nos tornamos espectador, aquele
que assiste, compreende, apoia, se importa e acima de tudo está presente com
generosidade e carinho. O momento em que “eu” deixa de ser egoísmo e passa a
ser prioridade. Me voilà! Aqui estou eu!
No
"segundo turno" isto importa bem mais, mas estupidamente, percebemos
bem menos.
Você tem uma veia poética muito forte e um dom nato, um talento e tanto e mais do que isto, suas reflexões, crônicas, poemas e tudo mais, são capazes de falar profundamente ao nosso espírito. Juro, fiquei impactada com tudo aqui.
ResponderExcluirÀs vezes temos sentimentos tão profundos e não somos capazes de elaborar em palavras, mas me vi muitos do que eu sinto, tão perfeitamente retratado aqui. Muito obrigada de coração.
Vou comentando com calma o seu trabalho e por favor Vitalina, se deixe usar mais. PUBLIQUE!!!! Tenho certeza de que beneficiará muitas pessoas com este dom tão maravilhoso.
Bjs. Muito sucesso.
Oi Lúcia, muito obrigada por tamanha gentileza. Fico feliz que tenha se identificado com alguns textos. Muitas vezes é difícil colocarmos em palavras, sentimentos que carregamos no mais profundo de nossa alma.
ExcluirSinta-se em casa para interagir comigo. Fiquei muito feliz com sua visita.
Obrigada.
Bjs. Vitalina
Oi Vitalina, esqueci de dizer, mas sou sua fã deste os tempos do Colunistas Yahoo, onde você postava textos incríveis. Aquilo ali morreu, bons tempos aqueles. Como estava com saudades, pesquisei no Google e te encontrei com um blog sensacional. Parabéns!Bjs.
ResponderExcluirQue legal! Me conhece daqueles tempos de Colunistas Yahoo? Tenho muitas saudades, juro para você que aprendi muito e fiz muitos amigos por este Brasil afora.
ExcluirFoi incrível. Esperava por uma oportunidade que não veio, mas cresci muito com todo meu empenho e expectativa.
Quanto a publicar, esteja certa de que o farei muito em breve. Tenho alguns poemas publicados em uma Antologia Poética, um trabalho muito bacana que foi feito pela Bárbara Editora de Blumenau - Santa Catarina - A palavra convida. Ainda tenho alguns exemplares, caso se interesse.
Vou deixar meu e-mail, ok? viassislina@gmail.com
Muito agradecida.
Bjs.
Vitalina.
Olá Vitalina.
ResponderExcluirMuito bom o seu texto, muito profundo. Parabéns! Já sou seu fã. O seus blog é incrível, excelentes textos, poemas, imagens.
Concordo plenamente quando diz que : Nosso segundo turno é o exato momento em que nos tornamos espectador, aquele que assiste, compreende, apoia, se importa e acima de tudo está presente com generosidade e carinho. O momento em que “eu” deixa de ser egoísmo e passa a ser prioridade.
Legal demais.
Abraços.
Júlio
Olá Vitalina.
ResponderExcluirMuito bom o seu texto, muito profundo. Parabéns! Já sou seu fã. O seus blog é incrível, excelentes textos, poemas, imagens.
Concordo plenamente quando diz que : Nosso segundo turno é o exato momento em que nos tornamos espectador, aquele que assiste, compreende, apoia, se importa e acima de tudo está presente com generosidade e carinho. O momento em que “eu” deixa de ser egoísmo e passa a ser prioridade.
Legal demais.
Abraços.
Júlio
Oi Júlio.
ExcluirObrigada por seu comentário e por se identificar com o meu blog. Sinta-se em casa, interaja à vontade.
Abraços.
Vitalina.
Gostei de ler o texto e gostei da "atitude" que lhe está implícita. Todas as idades são importantes. À medida que o tempo passa vamo-nos apercebendo que somos nós que construímos a vida que desejamos.
ResponderExcluirTambém vi o filme "dança comigo". Adorei, claro.
Uma boa semana.
Beijos.
É verdade amiga, somos os redatores de nossa história e quando percebemos que cabe a nós o editar, a vida fica mais divertida e menos complicada. A mudança sutil começa em nosso pensamento e bons pensamentos, são chaves mestras.
ExcluirObrigada. Bjs.
O mesmo cristal que víamos sem as matizes decompostas passam a fazer um espetáculo com as luzes que dançam bem além do tempo. Beijão
ResponderExcluirSim.
ExcluirA beleza que muitas vezes as pessoas não conseguem enxergar em árvores que perderam as folhas, no rosto que ganhou rugas, na maturidade que não é envelhecer. A beleza está no tempo, que se ocupou do tempo, na arte aperfeiçoar.
Obrigada, bjs.