quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Lembranças.

Por Vitalina de Assis.



Nunca vou esquecer
 o beijo  não me deu
o olhar não perscrutou-me
mãos não me despiram
calor não me aqueceu

Nunca vou esquecer teu toque,
senti-o na alma,
em sonhos...

Nunca vou esquecer teu gosto,
não imagino...
... delicio-me

Nunca vou esquecer teu peso,
me deixaria esmagar por ele.

esquecer,
perder,
morrer,
Nunca.

Fostes quem mais completou-me
embora grite! Incompletudes

sem viver promessas
Culpa?
Clímax?
Auge?
Não usufruí
só a mim importa. 

sonhos
tempo,
fantasias,

investi

em mim.
em lingeries de sedução,
sedutoras,
a quem ousaria exibí-las?

Não ter-te,
do que já tive
e perdi,
é  dor maior.

Do que se tem
esgotam-se as possiblidades


Você?

Perdi o in
Perder o in
o que não se teve,
não é  perder.


É

nunca
viver o vivenciável....
nunca
tocar o intocável
nunca
provar o improvável...
nunca
gozar o inefável.


Nunca

sair

do

lugar

comum.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Notas musicais.

Por Vitalina de Assis.






Todos os dias enfrentamos momentos diversos: alguns felizes e saltitantes, outros tranquilos como passos em viçosa grama e ainda outros, densa areia molhada. Nos felizes e saltitantes poucas marcas deixamos pelo caminho, pois ficamos mais nos ares do que em terra firme. Na viçosa grama, tapete divino, sentimos cócegas nos pés. Sorrimos felizes e gratos ao vê-la curvar-se reverentemente quando a tocamos. Em densa areia molhada,  como se afundássemos, pesam nossas pernas e pés. Pedimos colo aos céus.

Das alegres e saltitantes, as marcas que ficam,  por pouco não  as perdemos em dias densos. Das que por segundos ficaram pela grama  esquecemo-nos o roçar do riso, embora a gratidão nos acene timidamente. Em densa areia molhada,  quase exauridos, erguidos somos por Deus. Compreendemos assim,  pernas e pés hábeis.

Ao olharmos  para trás  visualizamos uma trilha desenhada, um traçado firme que tornou-nos não apenas fortes, mas seguros, confiantes. As marcas tornar-se-ão guia e conforto aos que por nossas trilhas vierem a transitar. (Esteja certo disto.)

De todas as lembranças guardadas e de outras tantas que teremos à nossa frente para dar abrigo, permanece a certeza de que todas elas, notas alegres ou tristes compõem a melodia da nossa vida. Entre sons e silêncios, seguir e aportar, que seja harmônico nosso existir.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A regência divina.

Por Vitalina de Assis.


O vento que balança a árvore, que balança os galhos, que balança as flores e faz um espetáculo pirotécnico natural, tirou-me de um estado de angústia proeminente que introjetava-me em pensamentos quase mórbidos e chamou-me à contemplação das árvores. Uma delas especialmente envolvida pelo vento que a agitava para todos os lados parecia ser impiedosamente molestada, uma vez que de seus galhos,  desprendiam-se suas flores, mas o espetáculo que se via não pareceu-me uma perda, um desconsolo. O que se via não causava apenas um profundo impacto na paisagem, impactava o meu interior; coloria de branco o vento incolor, e pintava em mim novas cores onde só reinava o cinza. Não era invisível ou indiferente aquela força que balançava a árvore.

A árvore-de-paina com poucas folhas, muitos galhos secos e uma quantidade enorme de bolas brancas estava sendo o destaque.

O vento que balança a árvore, que balança os galhos, que balança as flores, agora soprava as bolas brancas que se desprendiam, explodiam e se dividiam em centenas de pequenos flocos que, libertos para seguir o curso do vento pareciam flocos de neve alegres e brincalhões. Alguns ousavam ir bem no topo e subiam a perder de vista, outros contentavam-se no voo rasante e logo estavam espalhados pelos telhados. Eram lançados ao chão e no chão jogados para la e para ca, pouca visibilidade, nenhuma ascensão. Quando finalmente o vento seguisse seu caminho, ali ficariam  para serem levados pelas formigas, pisados, varridos, escoados com a água que viria dos céus, ou por um jato de água que lavaria aquele piso. Eram as possibilidades daqueles que não ousavam subir nas asas do vento. Os poucos ousados podia vê-los bailando, pareciam livres e intrépidos. Acho mesmo que, olhando para cima, eles confundiam-se com as nuvens que majestosas cobriam o céu estendendo seus domínios e anunciando que logo se converteriam em chuva e cumpririam assim, seu desígnio máximo.

Contemplar aquele desprendimento de tão frágeis criaturinhas, se assim posso chamá-las, e o que poderia parecer-lhes uma grande tempestade, fez-me perceber o quanto as situações, às vezes fora do nosso controle são ocasionadas por ventos divinos que querem  desprender-nos da segura árvore e nos lançar para a aventura do voo, para a conquista do novo.

Se ousarmos irmos sobre suas asas às grandes alturas, o céu será o limite e este limite potencialmente não existe. Iremos  tão longe quanto o vento queira soprar, ou tão longe quanto sonhou nossa liberdade. Entretanto, se covardemente, timidamente, ou desousadamente decidirmos pela fragilidade, nosso destino será o chão mesmo após termos voado. O vento vai seguindo seu caminho e a brisa que fica não oferece suporte. Existem aqueles que  se agarram insistentemente à árvore e estão carregados de imaturidade, o que pode às vezes ser um mero engano. Entretanto, não sonham, não ousam, não querem. Perdem a oportunidade de alçar voo, e o vento, não sopra para sempre no mesmo lugar.

A maturidade te dá asas! Decidir usá-las é prerrogativa própria.