Por Vitalina de Assis.
Ela conseguira visualizar e com um pouco mais de silêncio poderia até ouvir as gaivotas. Lembrou-se de um casal de aves que vira no alto de uma palmeira e de como sua imaginação correra solta e em segundos estava com ele na praia debaixo da mesma. O suor que escorria como gotas de cristais pelo rosto daquele que amava profundamente, deliciosamente provava para não vê-las perderem-se na areia. As garças arrulhando-se ao cobrirem suas fêmeas e somando a tudo isto, o doce mar soprando sua música mágica e afrodisíaca! Cenário perfeito para um encontro tão esperado.
O homem de pé naquela sacada do hotel sentia a brisa que o mar insistentemente soprava em sua face. Fechando os olhos tornava-se nítido um hálito aquecido, um beijo desenhava-se, e por todo o seu corpo percorria um arrepio que imprimia em cada poro o desejo de possuí-lo.
Não era a brisa, não era o vento...
Era um sopro...
Ela tinha que estar ali...
Aquela presença se move. Aqueles beijos agora na boca que geme e quer mais parece querer brincar de beijar e tocar outras bocas. Na orelha deliciosos gemidos, lambidas cálidas, mordidas imprecisas. Que som era aquele que gritava desejo, que sussurrava tesão, que gemia paixão?
Silêncio.
Percorre a nuca, se enrosca no pescoço, se perde atrás da orelha, mapeia , redesenha, contorna, recontorna, desfaz e refaz. Refeito o que estava feito, segue seu caminho... Para no peito.
Peito e seios comprimindo-se, fundindo-se em um abraço real, irreal, forte, torpe, animal.
Abraço esperado, desejado, tão sonhado!
Abraço quente, que sente, não mente amor, calor, não causa dor.
Abraço cede a força, cede pressão, afasta-se.
Aquele corpo gira o quarto, move a cama, gira o mundo, para o tempo...
Se lança na rede, balança a rede, ainda tem sede.
Aquele homem, imóvel, ouve a rede...
Abre os olhos e se lança.
Aquele corpo que balança a rede, ainda tem sede. Recebe... ajeita...deleita... beija.
Um coração bate à porta.
Aquele homem agora possuído e com marcas felinas pelo corpo, se entrega ao gozo, se entrega à paixão. Não há mais horas, dias, meses. Entorpecido estava e permaneceria imóvel, se uma atração muito forte não o impelisse até aquela porta. Como que dominado por um súbito interesse, ergueu a cabeça e olhou atentamente naquela direção.
Que estranha força era aquela que desatava-o do abraço,
que fazia-o mover-se,que tirava-o do sonho,
do irreal feito real?
Que força era aquela delicadeza que batia na porta?
Tão suave e intempestiva?
Tão graciosa e descompassada?
Tão surda e tão sonora? Tinha que ser ela...
Calada e tão falante!
Distante um dia, envolvente por toda vida!
Aquele homem consciente da presença quente que aguardava lá fora e portas não poderiam reter e impedir seu mover, não se detém mais, torna-se urgente! Imperativo abrir, e deixar entrar. Suas mãos tremulas e ansiosas abrem caminho na escuridão do quarto que com as luzes apagadas, mas iluminado pela luz do luar, vicejava um prazer muito refinado que fazia emanar desejos incontidos que logo romperiam suas amarras e toda uma gama de reprimidos desejos saltariam enfim, livres em busca de satisfação! Seu coração não batia descompassadamente, nem estava prestes a colocá-lo em apuros e, entoando em parceria com o mar, marcava o tempo daquele canto entorpecedor. Ao tocar a maçaneta e ao girá-la passam-se segundos eternos e todas as juras, todas as palavras confidenciadas, todos os sentimentos e emoções vivenciados, toda a paixão retida e idealizada se transformam em fontes de luz e cor ante seus olhos. Mesmo assustado com tamanha magia, nada mais pode surpreendê-lo neste momento. O que estava por vir, atípico e sem igual neste planeta, teria sido a muito idealizado, talvez nas estrelas, talvez em outros mundos, talvez em outros sóis. Fosse o que fosse não se comportava como algo terreno. Luz e cores emergiam dele e nada, à sua volta lembrava um lugar comum. Seria assim um encontro de almas? Questiona-se afinal.
Abre a porta e la estava ela. Personificada toda uma expectativa, toda uma espera, toda uma essência. Seus olhos nada desafiadores e um tanto tímidos, comportavam ternura, ansiedade, medo e um querer perscrutar e penetrar nos recônditos daquele que se apresentava ante eles e que agora, ternamente, tocava-lhe os cabelos. Seu toque tinha um "q" de esotérico, de mágico, de sublime. Reclina-se e aproxima-se daqueles lábios quentes. Esperava-se um beijo, mas decididamente e por mais que ambos o quisessem, não era o oferecido, o tal! Não era o recebido o tão desejado encontro dos lábios para uma troca a muito idealizada, a muito desejada. O que via-se ali era apenas um roçar, um breve e leve roçar que mesmo em nível tão impreciso queimava como fogo. O que não se esqueceria por décadas, por vidas.
O olhar que fala mais do que palavras, convida, atrai. Ela entra. Segue. Fixa. Cativa deste olhar é conduzida até aquela sacada que não lhe parece estranha, alheia. Tinha certeza de já ter estado ali horas antes. Tinha certeza de já ter feito aquele homem prisioneiro do seu encanto, do seu desejo. Perplexa questiona-se: Como posso ter tão nítida certeza se na verdade é este o momento real do encontro? Mas como explicar o que não é apenas uma vaga impressão? Teria acontecido? Teria sonhado? Teria ido além do mover temporal? Ou o meu desejo irreverente fugira do meu controle e vivenciara antes de mim todo este encantamento? Sai dos seus devaneios.
Aquele homem, mãos agora, toca em sua blusa, nos seus botões. Abre um a um e vai expondo colo, seios, ventre. Ela não se dá conta da exposição a qual está sendo submetida, sente apenas o calor das mãos e como estão quentes! Sua blusa lançada ao chão, é apenas um detalhe que rouba-lhe a atenção por alguns segundos. Quando retorna, são suas as mãos que desnudam aquele homem. Uma camisa é atirada sobre a que já estava à espera. Pensar que tecidos poderiam estar entrelaçando-se faz com que desejem que pele, calor, corpos, peitos e seios se fundam. Peito e seios cravam seu calor e intensificam o desejo.
Difícil saber onde estava ele... onde estava ela.