sábado, 25 de março de 2017

Saudade.








Saudade deveria ser sinônimo de reconhecimento. Reconhecer um tempo ímpar de experiências e vivências que, mesmo cotidianas e corriqueiras, mostrarão a seu tempo, seu real valor. Agradecida por cada dia e minutos em que meu ser foi capaz de registrar na alma e no sentimento, aquilo que muitas vezes, não registramos em nosso olhar.
Escrevi isto no dia 21/03/17, uma noite antes da morte da minha querida e especial amiga. Ana Maria Cruz é uma dessas amizades que são sementes que, generosamente, o destino semeia em nossa estrada muitas vezes ressequida, pela falta de um genuíno amor que ultrapassa laços familiares.
Ela chegou em uma manhã no Sac da Regional Pampulha, para solicitar o corte de uma árvore e eu tive o privilégio de atendê-la. Feita a solicitação, conversamos um pouco, ela falou da morte recente do marido e chorou. Eu me levantei, nos abraçamos e sem que nos déssemos conta, fomos "semeadas", uma na outra. 
Sua cordialidade sincera foi algo que eu desconhecia, convidou-me para ir à sua casa tomar um café, me deu seu endereço e telefone e eu imprimi um dos meus textos e lhe entreguei. Nos despedimos.
Como toda semente que lançamos na terra tem o seu tempo certo para germinar e se fazer presente na superfície, assim foi conosco. Um ano se passara sem o menor contato e em um belo sábado, sozinha na minha casa e com uma vontade de dar um passeio, lembrei-me de Ana Maria. 
Mas onde foi que eu guardei seu telefone e endereço? Na agenda do ano que já havia passado. Fucei nos meus guardados e lá estava ela e na última página, o que eu buscava. Com a cara de pau que Deus me deu, depois de vários ligo - não ligo - venceu o ligo. Do outro lado uma voz carinhosa respondeu alô e quando eu disse quem era, lá estava o convite imperativo, você está sozinha em casa? Então vem tomar café comigo, a Darci minha cunhada, está aqui e quero que você a conheça, não fica sozinha não. Menininha vem pra cá, tô te esperando.
Fui. Tomamos café com pão de queijo, conversamos, Darci levantou-se para ir embora, ía aproveitar a deixa e a Ana não deixou que eu fosse com um óbvio argumento: "pra quê que você vai pra casa pra ficar sozinha? Eu também vou ficar sozinha se você for embora, então vamos conversar mais e você dorme aqui, e amanhã saímos para almoçar ou eu vou fazer um almoço bem gostoso pra gente".
Depois deste dia, uma vez por semana, eu saía do trabalho, passava na padaria do seu compadre que ficava na esquina, comprava o pão bem torradinho e o café já estava cheirando na rua.
Em Julho de 2016, minha amiga sofreu um AVC, foi guerreira e continuou lutando pela vida, até que hoje, dia 22/03/17 ela nos deixou. Eu estava há três semanas com ela, cuidando para que sua prima Olga pudesse descansar um pouco e sem mais nem menos, após um café e um almoço maravilhoso, ela se foi e me deixou com um vazio imenso no coração. Vi no seu olhar a vida esvaindo e não pude acreditar no que fingia negar meu olhar.
Oi menininha, você está boa? Nunca mais ouvirei a sua voz, não enquanto eu ainda estiver por aqui. Sei que o Senhor recolheu mais uma flor, e sei também que ela semeou jardins imensos e por muitas e muitas décadas ela ainda será lembrada, por sua alegria, garra e extrema generosidade. Fez amigos como eu jamais imaginei que alguém pudesse fazer e conservar e se a vida lhe negou filhos, ..
“Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; rompe em cântico, e exclama com alegria, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária, do que os filhos da casada, diz o SENHOR”.
Descansa em paz minha linda. Aprendi muito com você. Por toda a minha vida, vou te amar. SAUDADES!


7 comentários:

  1. Um amor eterno que o tempo sempre fará questão em relembrar em forma de saudades ,querida amiga os meus sinceros sentimentos para toda a família ,muitos beijinhos no coração

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    1. Oi Emanuel, muito obrigada.

      É verdade, o amor levamos conosco para a eternidade e a saudade se torna uma parceira, que muitas vezes gostaríamos que ela simplesmente não precisasse existir. Entretanto, a sua não existência, seria a prova contundente de que o amor não existiu, sendo assim, prefiro a saudade de um dia ter tido um amor, do que nunca vivência-lo. Somos seres de amor, amar nos faz feliz e plenos, ainda que...
      Dói, dói muito.

      Bjs. Muito obrigada.

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    2. Oi Emanuel, muito obrigada.

      É verdade, o amor levamos conosco para a eternidade e a saudade se torna uma parceira, que muitas vezes gostaríamos que ela simplesmente não precisasse existir. Entretanto, a sua não existência, seria a prova contundente de que o amor não existiu, sendo assim, prefiro a saudade de um dia ter tido um amor, do que nunca vivência-lo. Somos seres de amor, amar nos faz feliz e plenos, ainda que...
      Dói, dói muito.

      Bjs. Muito obrigada.

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  2. Um amigo que parte é uma ferida na luz, disse um poeta... Por isso magoa. Que descanse em paz.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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    1. Oi Graça, muito obrigada.

      É uma ferida na luz, é uma verdade isto. A luz que emanava desta pessoa não é mais perceptível, neste plano de muitas dores. Fica o amor e a doce lembrança de dias idos.

      Uma semana plena e feliz para você.
      Beijos.

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  3. Vim retribuir a visita e descobrir seus blogue, achei tão lindo esse texto. Vou passar a segui-la
    um beijinho
    Gábi

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