terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um dia a menos.

                                      
Por Vitalina de Assis
Um dia a menos.   
Outro dia, meu  amigo Weber, desafiou-me a escrever um texto que abordasse esta ideia que não é de fato apenas uma ideia, mas uma realidade da qual muitas vezes não temos plena consciência. Algumas pessoas consideram ao cair da tarde que venceram mais um dia, são as tais que suspiram felizes por terem abatido mais um leão como se a vida fosse um eterno safári e nós caçadores compulsivos. Outros que eu não ousaria chamar de pessimistas terminam o dia com um “lamento” satisfatório de dever cumprido que mais parece um agouro tamanho peso sobre os ombros. Suspiram profundamente e verbalizam em alto e bom tom: Ufa! Um dia a menos!
Provavelmente eu e você já fizemos isto incontáveis vezes sem nos darmos conta de que esta contagem é regressiva, de que não caminhamos apenas para mais um final de semana festivo, mas que um dia a menos, invariavelmente, encurta nossos dias. Já atentastes para isto?  Se víssemos a realidade “cruel” (porém necessária) desta contagem regressiva, certamente atentaríamos para “detalhes” que dada à urgência do viver passam despercebidos e faria toda a diferença se os observássemos.
Não gostamos de pensar na morte, sentimos arrepios quando ela insinua um olhar sedutor e por mais que a repudiemos, a mesma não se ressente e continua a espreitar-nos como uma boa predadora, resta-nos então, seguir seu exemplo de dedicação e aplicarmos este mesmo olhar à amiga, oposto da morte, que mira-nos com apreço e deleite.
Um dia destes ao olhar da janela do meu apartamento, vi uma linda e viçosa flor rompendo a superfície da grade do esgoto como se tivesse sido cultivada em um belo jardim. Aquela visão mexeu com os meus sentidos! A flor em questão era um beijo rosa, e mesmo a uma considerável distância, era perceptível sua viçosidade. Bastou uma mínima porção de terra para gerar beleza em um local tão inadequado. Pergunto-me, se enquanto flor, enquanto “beijo”, se a postura daquela planta (permita-me usá-la como uma metáfora) não teria feito toda a diferença.
Pensar em um “beijo” crescendo entre esgoto, mau cheiro, água suja e uma porção mínima de terra pode parecer impraticável, um contra senso, mas a flor, inconsciente deste fato, prova viva e incontestável, erguia-se como um totem em celebração e agradecimento à vida.
No seu pequeno mundo não se dava conta de viver um dia a menos, no seu pequeno mundo,  o que contava era a diferença de sua inusitável presença em meio ao caos. Mais um dia para ornar, mais um dia para ser grata, mais um dia para vivenciar pequenos detalhes, mais um dia para amar na prática, não apenas em palavras ou sob a responsabilidade do outro. Mais um dia para solidarizar com as pessoas, com o mundo, consigo mesmo.
Pare por um minuto apenas e experimente ser um beijo, prova viva e incontestável, um totem em celebração e agradecimento à vida. E aos nossos irmãos que sofrem com as enchentes, nosso gesto de carinho e atitude e uma prece a Deus.




12 comentários:

  1. Oi Vitalina!

    Gostei muito deste texto e se levarmos em consideração o que de fato acontece ao vencermos mais um dia, poderemos vivê-lo com mais intensidade, atentar para a simplicidade, leveza e sermos mais sensitivos com o que acontece à nossa volta.

    Grande abraço.

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  2. Minha amiga Vitalina.

    Seu texto está perfeito! Quanta sensibilidade! Nos dias em que vivemos, quem dera todos pelo menos uma vez na vida, fossem como esta planta, florescer mesmo entre grades físicas ou psicológicas. muito bom.

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  3. CARPE DIEM QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO (APROVEITA ESTE DIA NÃO CONFIE NO FUTURO). Pues sí hay que vivir cada minuto de nuestra vida como se fuera el último, por que no? Así tendremos tiempo, fugaces minutos, segundos, de alegría. No tenemos que ser el producto del medio como dice el viejo dicho que por fuerza mayor está equivocado según mi concepto personal. Bueno, al menos la plantita no ha sido porque el ambiente en el cual estaba no era apropiado para las flores delicadas. Pues que tal si hacemos como la florecita y somos diferentes cuando el ambiente alrededor es hostil, como lo ha dicho la maestra Vitalina...Muchos besos...

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  4. Querida Vitalina!

    Que belo texto! De uma sensibilidade...

    Amei a frase:

    "no seu pequeno mundo, o que contava era a diferença de sua inusitável presença em meio ao caos."

    Bom mesmo é viver a totalidade das coisas... Viver a vida na sua imensa grandeza de tal modo que o medo não consiga nos alcançar. Eu quero viver assim! Quero ser uma flor no meio do caos...

    Parabéns pelo texto.

    Bjs. carinhosos,

    Erica

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  5. Oi Vitalina , você está de parabéns com seus textos, nossa esse um dia a menos, e super lindo,amei*--*
    principalmente esse parte do texto : '' No seu pequeno mundo não se dava conta de viver um dia a menos, no seu pequeno mundo, o que contava era a diferença de sua inusitável presença em meio ao caos. ''
    tipo o beijo não escolheu o lugar pra nascer , nasceu entre o esgoto , mesmo sendo no esgoto ele vive bonito, amei mesmo esse textos ; *

    ti desejo tudo de melhor, que você continue escrevendo textos lindos como esse

    bjo

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  6. adorei esse texto, principalmente por estar relacionado com a foto, que é real e foi tirado por você mesma. incrível o lugar onde o beijo escolheu pra nascer. já ouviu aquele ditado 'até no lixão nasce flor'? nesse caso, foi no esgoto.. coisa mais linda! parabéns pelo texto!

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  7. Como é bom a identificação!!
    Queremos ser diferentes, mas ao encontrarmos quem tem gostos, algumas atitudes, ou sentimentos como os nossos, sentimos que não estamos sós!!!
    O seu texto revela muitas dúvidas que encaro!!!
    E a sua foto possui uma "florzinha", renegada por muitos, por não ser especial, por nascer em qualquer terreno. Tenho, como você, surpreendido-me com ela!! Tirei várias fotos!!
    É uma verdadeira lutadora. Acredito que deveria ser muito valiosa, pois não se intimida com os obstáculos. É uma guerreira!
    Você, como esta "florzinha", encanta-me!!!!

    Beijosssssssss

    Soninha

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  8. Já fiz vários comentários para esta crônica e para as outras, MAS somente um foi publicado.
    Por que^?

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  9. A realidade transfoma e pode ser transformada! É necessário, na maioria das vezes, um olhar!!!
    Sua sensibilidade transformou uma imagem em sonho!!! Parabéns!!!

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  10. Comentário de Tânia Maria Suzart Ribeiro em 2 junho 2011 às 18:38 (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    Vitalina, seu texto é uma lição que deveríamos ler do amanhecer ao anoitecer.
    Sem dúvida nenhuma temos é que agradecer pela vida e pelos dias que virão, porque se continuamos aqui, bem ou mal, é a prova de que nossa missão continua e que por alguma razão ainda não estamos do lado de lá.

    Meditei sim e agradeço pela oportunidade de me sentir um "beijo" neste mar de contradições.

    Abraços.

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  11. Comentário de Luiz Mário da Costa em 21 junho 2011 às 18:41
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    - Estimada poetisa, o fato de enviar convite para amizades, é um ato tão nobre que , vários poetas da casa se tornam amigos a partir de comentários de seu respectivos textos. No selamento da amizade, vem a curiosidade de visitar a página de quem se propõe a referida amizade; neste sentido com você não foi diferente, e para minha grande alegria me deparo com textos belíssimos no seu recanto, como este acima, tão reflexivo que merecia ser postado em outdoors dos grande e pequenos centros, e até mesmo no mais longínquos rincões deste país.

    Palavras sábias, feito parábolas reveladas, vocábulos mágico a desvendar o segredo da magia, expressões iluminadas de sapiência. Pra você estes versos:
    De repente
    me pego, absorto
    tão concentrado
    que mesmo o vento
    afagando-me, tão leve
    e carinhosamente, feito veludo
    me tira do absortismo.
    Diria que os movimentos
    dos carros acelerados
    na minha audição, inexistiram
    tudo isto para me proporcionar
    uma leitura concentrada de:
    "Um dia a menos".
    E eis
    que do susto pródigo
    (feito alerta em meus olhos)
    vejo em minha frente
    u imenso painel, uma obra de arte
    pincelada pela caneta digital
    desta poetisa, tão sutil no sorriso
    estampado na foto
    transparecendo sua felicidade
    a revelar a face oculta, da nossa
    adversidade:

    "Pare por um minuto apenas/e experimente ser um beijo/prova viva e incontestável/um totem em celebração e agradecimento a vida".

    Em silêncio findo este comentário, para não filar nenhum resquício dos vocábulos imperativos, e de lição.

    Mário Bróis.
    .

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    Respostas
    1. Mário, meu querido.

      Suas palavras são folhas convidativas para a minha escrita. Muito obrigada.
      Bjs.

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