terça-feira, 20 de março de 2018

Detalhes, grandes detalhes.


Por Vitalina de Assis.







E assim ela percebeu que o muito pensar e analisar emoções podem não ser o caminho que conduz a uma paz interior. Mas o que fazer com todos estes sentimentos conflitantes que abriga no recôndito de seu ser? Ignorá-los seria o suficiente para afastá-los de vez? Tentou não pensar, tentou bloquear as emoções, decidiu sorrir. Deixou um sorriso flertar em sua face, sentiu uma leveza pousar sobre seus ombros, moveu seu corpo, relaxou  pescoço e ombros -  vestiu-se de paz. Fechou os olhos e decidiu escrever no escuro de suas pálpebras. Às vezes precisamos de poucos minutos para tornar-nos ausência em tudo o que realmente não somos e deixar fluir nossa verdadeira essência, essa que brilha e que, não poucas vezes, ofuscamos momentaneamente seu brilho.


Mais um dia se foi e outro igualmente chegou, amanheceu em outro tempo, outra luz da manhã incidiu sobre ela, e deu-se conta de que a leveza ainda estava ali. Constatar este fato desconcertou-a. Sentir-se mais leve não era seu costumeiro espírito. O que mudara afinal? Questiona sua mente em uma lógica que não  equacionou-se em seu sentir. Ah! Os seus sentimentos -  deu-se conta de que uma simples atitude, uma troca de pensamentos alterou a superfície do seu sentir. Apenas isto? Questionou seu espírito. Mais um pouco e refletiu que qualquer mudança, por mais insignificante que pareça, já coloca em curso um movimento.


Ontem trocou de lugar sua mobília da sala de estar, deslocou o sofá para a parede oposta e a televisão seguiu o mesmo rumo, as cadeiras de apoio giraram sobre seu próprio eixo e lá se foram para o outro lado, e não é que parecem mais altivas? Ela jurou nunca ter reparado o quanto eram sóbrias e não apenas lindas, afinal o preço que pagou por elas, por si só, já era um grande presente. Muitas "ofertas relâmpagos" nos parecem apenas isto, pechincha, e deixamos de enxergar os detalhes, os grandes detalhes. Alguém se incomodou com você e preparou tudo isto, separou com carinho, combinou horário, preço e sem um motivo específico lá estão seus pés a conduzir-te e seu olhar estrategicamente brilha sobre algo especial. São coloridas, flores no encosto, no assento e uma madeira lisa e reluzente a dar-lhe a forma. São lindas e uma felicidade despretensiosa a envolvê-las  contagia todo o seu ser. Será possível? Só custa isto? Perguntou para a jovem vendedora que sorriu-lhe ao dizer:


- São suas e estão prontas para mudar-se para sua casa. Já consigo vê-las compondo lindamente sua sala de estar. E uma piscadela foi o suficiente para que ela não pensasse duas vezes, não possuí-las estava fora de cogitação. Sabe quando conhecemos alguém e é como se o conhecêssemos a vida inteira? Era esta a sensação que lhe vinha à mente, uma familiaridade e conforto a encher-lhe a alma. Naquela tarde foram entregues e ela sentou-se em uma, pulou para a outra, tirou fotos, fez infinitas selfies, estava visivelmente feliz.


Uma brisa leve esvoaçou a cortina e a trouxe de volta ao seu quarto, sentiu o aroma de café que sabia vir do apartamento ao lado, conferiu as horas e agradeceu pela paz de um novo dia.



4 comentários:

  1. Que belíssimo momento querida amiga ,muito cativante do princípio ao fim ,muitos beijinhos no coração felicidades

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Belo pensamento prima. Expectativa e satisfação pessoal ...alimento da alma.

      Excluir
  2. E agradecer o que de bom nos acontece e o que de menos bom
    ... se resolve é uma benção!
    Gostei de ler!bj

    ResponderExcluir
  3. VITALINA,

    texto irretorquível, absolutamente pasmo com sua capacidade e competência de nos brindar com textos desta natureza.
    Lá no FALANDO SÉRIO, o qual você me honra em ser minha seguidora, publiquei " RECARDO PARA ADRIANA",e gostaria da sua visitação e possível comentário.
    Um abração carioca

    ResponderExcluir


Queridos!

Seu comentário muito me honra!

Sinta-se à vontade para avessar comigo.

Beijos e até.