quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Eu prometo.



Eu prometo.

Por  Vitalina de Assis.



 "Promessa é o compromisso de se fazer alguma coisa. Aquele que    promete algo quer dizer que está comprometido com aquilo".                             



Escrevi o texto abaixo em Janeiro de 2019 e releio hoje, dia 18/11/2019, exatamente dez  meses depois.  No dia 16/08/2019, sofri um AVC Hemorrágico e regressando ao trabalho, após meu período de licença médica, me deparo com as promessas que fiz a mim mesma, um "manifesto", como diria um grande amigo do passado. Depois de tudo que passei e do milagre que é receber minha vida de volta sem nenhuma sequela, só posso fazer valer cada promessa feita.

Eu prometo não supervalorizar pessoa, coisa ou lugar. Prometo não supervalorizar um estado “relacionamento”, pois ninguém pode me proporcionar o que meu Deus pode me dar.

Eu prometo valorizar Deus e minha relação com Ele e não estou me referindo a ser membro desta ou daquela denominação, pois Deus não se prende entre quatro paredes. Estou revendo meus conceitos e o louvor, que me muito cantei, me toca profundamente:

          “Quero voltar ao início de tudo
          Encontrar-me contigo Senhor
          Quero rever meus conceitos, valores
          Eu quero reconstruir
          Vou regressar ao caminho
          Vou ver as primeiras obras Senhor

          Eu me arrependo Senhor
          Me arrependo Senhor
          Me arrependo Senhor

          Eu quero voltar
          Ao primeiro amor
          Ao primeiro amor
          Eu quero voltar
          A Deus"

Eu prometo valorizar o Deus que habita em mim, que está e sempre esteve comigo em todos os momentos da minha vida e que me proporciona mais, muito mais do que qualquer outro ser, ou situação.

Eu prometo ser grata por tudo. Obrigada, muito obrigada, gratidão pelo meu estado solteira, pelo amor que posso nutrir e compartilhar comigo. Sou grata por minha vida e por exercer esta compaixão, companheirismo, cumplicidade, tolerância, amizade e amor por mim mesma.

Ao amanhecer e ao ver-me no espelho agradecerei pela minha vida, serei grata a Ti em  primeiro lugar. Abdico da responsabilidade de idealizar, ou criar situações para trazer o "outro" até mim. Minha vida não está atrelada a ninguém, e reconheço minha total dependência  do Senhor, meu Pai  Eterno. 

Eu prometo amar o Senhor, ser fiel a Ti meu marido universal porque ninguém mais é capaz de amar-me e cuidar-me com tanta intensidade.

Fui a lugares incríveis, lindos e vivi momentos inigualáveis porque o Senhor, me conduziu a eles e foram ricos, generosos, felizes, extraordinários. Só o Senhor Deus para me proporcionar tudo isto. Aranjuez foi o exemplo deste conhecer, levou-me onde minha alma se encontrou feliz e plena. Salamanca, encontro divino, sem medo e extremamente feliz. Ainda tenho comigo a alegria - "confia e vivencia". 

E quando minha alma e meu corpo, se encontravam no limite entre a vida e a morte, Tu me disseste: - Viva Vita! E ainda que a palavra do neurologista, dita à minha filha Talita fosse: - vamos tentar tirar a sua mãe do óbito - sua alternativa Deus, nunca foi a incerteza - me arrancastes da mão da morte sem sequer arrazoar com ela. Sua soberania e poder, não são moedas de troca e isto ficou muito claro aos meus sentidos. Claro também ficou a certeza de que minha vida tem um propósito e, que vou realizá-lo com a sua graça.


Gratidão do fundo do meu coração. Deus é Amor sem limites.







quarta-feira, 17 de abril de 2019

Enxergando a Páscoa com um olhar diferenciado.



Por Vitalina de Assis.


A Páscoa nunca deixará de trazer à nossa memória o maior e mais importante evento do Cristianismo: a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo, e de quão gratos devemos ser por tamanho sacrifício, entretanto, quero caminhar por outra faceta da mesma e dialogar com você. A Páscoa foi instituída quando Israel era escravo na terra do Egito e, quando as medidas desta escravidão já não comportavam mais uma nação, clamaram por liberdade.


Tudo na vida possui uma medida e é no transbordar destas medidas, sejam elas aparentemente saudáveis, ou aparentemente enfermas é que visualizamos a possibilidade do êxodo. Deixar uma vida de escravidão para trás e se lançar para uma vida de liberdade não é fácil, tampouco confortável. Os pensamentos e atos, supostamente livres, não sabem exercer a autonomia, não foram treinados para isto e se não formos ligeiros, atar-se-ão novamente ao antigo feitor. Ciente deste comportamento nocivo à liberdade, os israelitas receberam de Deus uma orientação a ser seguida à risca, pois disto resultaria o sucesso do êxodo.


“Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do Senhor.” (Êx.12:11)


Não entrarei em maiores detalhes, basta dizer que deveriam se alimentar de um cordeiro sem mácula por família e que não deveriam fazê-lo em festa, em uma mesa bem posta e com tempo aprazível para degustar tal banquete. Deveriam comê-lo já preparados para “bater em retirada”, vestidos apropriadamente, sandálias em “punho”, cajado (instrumento indispensável para a grande travessia) e à “pressa”.


Ôpa! Não é a pressa a inimiga da perfeição? É o que dizem e é no que  a maioria acredita e alguns seguem pela vida entoando o mantra: “Ando devagar porque já tive pressa”, veem seus dias arrastando-se lentamente e quando se dão conta.... sobra-se então vacilo, desistência, comodismo, inaptidão para romper e uma vida à margem da plenitude.


Aquela nação escrava não poderia correr o risco de ser seduzida pela escravidão e abrir mão da liberdade, que a Páscoa acenava-lhes. Quantas “páscoas” ainda teremos que vivenciar para enfim, sairmos do cativeiro? “Comê-lo-eis à pressa, é a Páscoa do Senhor”.


Suas medidas estão transbordantes? Ser refém desta situação já é quase impraticável? Alie-se à “pressa” e perceba que os seus dias, estão repletos de oportunidades e muitas delas significam deixar velhos hábitos que nos escravizam, abrir mão de zonas de conforto que estão mais para momentos de guerra civil, e optar pelo pleno exercício de nossa autonomia -  o caminho para uma vida de liberdade.


Por vezes precisamos nos libertar de alguns pensamentos nocivos, opressores, que nos mantêm cativos em lugares incomuns, sem a menor possibilidade de ascensão e progresso. Páscoa também é isto -  o momento ideal para fugir rapidamente de situações que nos oprimem.


segunda-feira, 25 de março de 2019

Completude.




Por Vitalina de Assis.






Não me recordo quando foi a última vez que postei por aqui, e isto é uma verdade relativa, pois basta olhar a data da última postagem  para situar-me. Deixemos isto em outro plano, pois não é a ausência de publicação algo relevante, a relevância está em ter ou não algo para dizer. Outra relevância pontua-se: quem neste mundo, não teria algo a dizer? É mais relevante pensar que, talvez não se encontre quem queira ouvir ou se importar, e isto também se torna irrelevante, já que possuo dois ouvidos, dois bons vizinhos para uma única boca.

Você pode estar incomodado com a minha redundância e insistência na arte de relevar, mas deixe-me adjetivar em paz e desista de contar quantas vezes fiz uso desta palavra, porque isto também não tem relevância alguma. O que me move são momentos, pouco a ver com “inspiração”, porém, muito a ver comigo. A escrita me constrói e desconstrói na medida em que permito e hoje, dou-me a este desfrute. Nada me revela mais do que as letras que desenho livremente em um fluxo quase ininterrupto, João Cabral de Melo Neto disse: “Escrever é estar no extremo de si mesmo,” e de fato o é. Então, de muito pensar nesta ausência criativa por aqui, embora por cá, fora deste limite que se impõe,  meu ser borbulha de ideias e questionamentos internos, não que eu possua dúvidas quanto ao que vai em minha alma, no entanto permito que  as do entorno, se apresentem. Sou todas as respostas de que necessito. Basto-me eu em meu ser, supro-me eu em meu ser. Sinto-me implodir em mim, sem desconstruções, poeiras e entulhos naturais de uma implosão. Sou construção, sou descoberta, estou inteira.  Estou perplexa! Incompletude sempre foi a minha essência, então o que eu fiz com ela afinal? Onde abandonei a incompletude? Como não percebi tê-la largado em algum lugar? Quando me completei?

Um dia destes e deste momento não tenho a mais insignificante lembrança, larguei, joguei, perdi, fui roubada, sei lá - um pacote ofício pardo contendo  relatórios e um artigo em PDF - Os 72 Nomes de Deus - uma tradução que fiz do espanhol  que evaporaram-se, de minhas mãos e de minhas lembranças. Não fosse o caso, de um documento específico estar no meio e ser requisitado em um tempo posterior, minha memória talvez jamais se lembrasse de tal pacote. Fui abduzida neste dia. Juro, de nada me lembro do após - tomando-o em minhas mãos e seguir para casa.

Quão grato seríamos se alguns eventos de nossa existência, fossem evaporados assim. Consegues enumerá-los para abdução?  Fato é que fiquei preocupadíssima com minha responsabilidade, pois só poderia caber à sua ausência o meu ato de perder, esquecer e sequer lembrar-me, porém tudo passa e nada permanece imutável nesta nossa existência efêmera. Depois de tantos: “não sei o que aconteceu e nem tudo, se pode resgatar”, descansei, melhor, aceitei o que eu não poderia mudar de jeito algum. Aceitar parece um verbo descontextualizado em nosso viver, mas é perfeito para se conjugar e quando compreendemos isto, a leveza reside na porta ao lado e a culpa, sabe-se lá por onde anda. 

Aceitação não é sinônimo de acomodação, mesmo porque nossa natureza respirante tende a relutar ao novo, a ser resistência para o que se achega. Do conforto, haveremos de desconfortar em algum episódio de nossa existência e isto é tão mágico quanto surpreendente. Pense nisto. Aceitação é crescer dando-se conta desta expansão, que não é, e nunca será apenas corpórea, no entanto, muitas vezes sutil passa ao largo até que as medidas extrapolam e nos descobrimos à deriva de nós mesmos, à espera de um resgate, ou plenamente integrados à nossa essência de luz.

Tudo está em crescimento desde o dia em que nos aventuramos naquela corrida insana e quem sabe desleal, com os nossos pares para nos acomodarmos no útero de nossa mãe e de lá para cá, é imperativo crescer. 

                              

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Em mim.




Por Vitalina de Assis.




Há muitos anos atrás minha mente era muito compactada, possuía uma “concepção espiritual” e acreditava que aquela forma de crer e de exercer esta crença, era a correta. Meu mundo se resumia na seguinte frase: eu sou de Deus e os outros, que não estão na minha igreja, são do mundo. Existiam aqueles que estavam na mesma igreja participando do culto, mas eram  mundanos, não   haviam passado pelo batismo nas águas, ouviam músicas que não eram evangélicas, frequentavam barzinho, fumavam, bebiam, eram do mundo mesmo.

Eu estava feliz nesta redoma, tudo era muito delimitado, sabia-se exatamente o que fazer ou pensar, “mentezinha” pequena, não? Era jovem demais, pouco mais que uma adolescente em uma época em que a adolescência era apenas sinônimo de “aborrecência”, hoje não mais, com certeza.

Muitos anos depois dei um salto para a faculdade, então as coisas começaram a mudar, comecei a filosofar, menos... questionar seria mais adequado, dúvidas seriam a nova estrada, ruazinha a trilhar.
Ouvi uma professora de Filosofia insistir na palavra caminho. Acendeu uma luzinha, estaria ela insinuando “O caminho, a verdade e a vida”? Estaria falando de Jesus de uma forma que eu desconhecia? Fiquei deveras incomodada, melhor - mexida. E ela não parou de lançar seus dados sobre mim  e o que guardei no meu âmago foi isto: toda verdade não é única, toda verdade é contestável e toda verdade pode ser absoluta, a minha pelo menos, até que..., mas, nenhuma será autêntica, se não for fruto de um empirismo.

Eita!

Empirismo, que belo acréscimo ao meu léxico quase sagrado, senti que eu estava adentrando solo profano e aquilo me atraía sedutoramente. Na verdade, toda forma de conhecimento é um ato profanador, pois fere nosso conforto, confronta nosso conhecimento, abala estruturas nada sólidas e machucam. Não há de desconstruir-se algo que não venha  provocar dores, todo conhecimento carrega sua parcela de desconforto. Dar à luz é um ato de dor profunda ao que concebe e ao que recebe.

O empirismo tinha sua própria magia desafiante e “desconstrutora”. Meus dominós estavam todos enfileirados em uma segura ordem e de repente, senti uma leve oscilação, help! Como é que eu conseguiria mantê-los de pé? Não poderia ainda que me esforçasse, meu desejo sincero era vê-los caírem um a um e o empirismo estava a postos para tudo justificar. Aprendi com o filósofo John Locke que a minha mente estava  mais   para “uma folha em branco, tabula rasa” apta para ser impressa com as experiências que eu teria que vivenciar, ou  colocar em xeque alguns conceitos, nada que pudesse por em risco minha identidade, mas apenas legitima-la.


Os anos  passaram e meu empirismo levou-me à certeza de que não há como fechar este ciclo, podemos virar uma página e seguir com a leitura, mas em dado momento, um flash-back se faz necessário e nos vemos mergulhando em memórias esquecidas. Algumas memórias me parecem “gatilho”, tamanho o reboliço de emoções evocadas, fico perdida em meio a sensações e sentimentos, mas são momentos que me forçam a uma nova releitura. Nada é exatamente o que parece ser e o que está diante dos nossos olhos possuem muitas nuances, vozes, cheiro, dimensão e merecem respeito. Certo seria ficar contemplativa, quieta, distante, silenciosa e esperar, esperar. Sei da angústia que a espera carrega nos ombros e de sua habilidade ninja em lança-la, sobre os nossos, entretanto, uma medida de paciência e fé há de colocar tudo, no seu devido lugar.

terça-feira, 25 de setembro de 2018



Ao ler-me. 
Vitalina de Assis.




Demarcar termos ou limites; fixar. Indicar com precisão. Diferençar. Resolver. Ordenar. Trazer consigo. Ocasionar. Introduzir, decidir. Distinguir, assentar.

Esta é o significado de determinação segundo o dicionário Aurélio. Quanto mais  associo estes significados à minha pessoa sinto que não combino muito com estes termos, isto, no meu olhar crítico, este olhar que todos nós carregamos e que por vez ou outra ofende nossa identidade  interior.

Não sei quando aprendemos a nos resignar e a aceitar rótulos que não nos define, e que  certamente não rouba nossa essência, embora acreditemos que sim inúmeras vezes. Nossa essência jamais poderá ser roubada, pois se encontra em lugar que o outro, não pode penetrar, não conhece o acesso e ainda que fosse o Indiana Jones ficaria à margem, completamente desolado por sua incompetência por não encontrar o tesouro.

A este lugar secreto, onde repousa nosso tesouro, só nós possuímos o acesso e quantas vezes ao chegarmos lá, não nos damos conta da riqueza e do brilho e isto porque existem inúmeras vozes, rótulos que estão a ofuscar encobrindo o que não pode ser encoberto e por vezes, aceitamos o inaceitável.

Preciso reconhecer que tenho o poder de demarcar, limitar, fixar, indicar com precisão e, por ter em mim, no mais recôndito do meu ser, a verdade de que sou mais do que o corpo que  me abriga, mais do que o conhecimento adquirido no dia a dia, muito mais do que penso ser ou ter.  Sou parte de Deus, uma fração de sua divindade e quando me reconheço, sei o quanto assumir e aceitar esta divindade me aproxima do meu propósito de vida.  Ciente disto posso diferençar, resolver, ordenar, trazer comigo. Ocasionar, introduzir, decidir. Distinguir o que ao redor se move, e decidir se permito que se assente como um sentimento que me torna melhor, ou soprar como a brisa e lançar à brisa minha profunda gratidão.