quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Mudança.





Por Vitalina de Assis









O que dizer de sua vida?
Teria tamanha sequidão
histórias a contar?

Mirei o olhar em dias idos
Ouvi vozes perdidas no tempo
Vento, sussurro, silêncio

Se ninhos abrigastes
Em teus galhos
Cantou a  vida

Hoje muda melodia
Abandono é sua sina
E rente a ti
Canta a morte

Tua quietude
Minha alma inquietas
Vejo guerreira
Tua força extinguiu

Extingui nossos dias
Se esvai nossa força
Imperceptível caminha a morte ao nosso lado
Perceptível mudança pareia 

Viver
Dia após dia
É recompensa maior

E se o ceifeiro
Se apressa a colher o que sente restar
Nossas fartas mãos
gentilmente a Deus agradecem

Se nossos galhos a estalar estão
Falta-nos o tempo
e apurado olhar

Nossos galhos também secam

Nossas folhas ficam pelo chão

E os frutos? Deleites na pele? Arrepios?

Do cheiro e sabor
Doce lembrança
Toque sutil
Assombra dias corridos

Vejo guerreira
Tua força mutou
Se em viçosa lida
Sombra e frutos repartias
Em sua honrada despedida
Minha vida 
inquietude inconformada
Sente o vento 
suas folhas caem
não sopra mais

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Amor?

 
Amor?
 
 







Como aroma incensário,
perfuma recônditos
e se...
possuis a felicidade de ir além
incendeia a alma
que por segundos
finge tocar a eternidade

mas

se esvai

logo.


Eternidade que se preze,
intocável é à nossa efemeridade.

No silêncio, os dias passam e com ele, o tempo.


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Avidez.


Avidez

Por Vitalina de Assis.






Sob escaldante sol
sua clara presença
esvoaça ao vento
balança feito rede
vazia
sozinha?
nem tanto
moldura para corpo abraçar
abraçaria

Observasse olhar ao longe
juraria em seu regaço
um corpo quente abrigar
e abrigaria por certo
e balançaria por certo
e o vazio
a sentir-se completude
transbordaria

Meus olhos
ávidos
de observar a claridade
que balança feito rede
emoldura o corpo

e ...

minha alma
carícia plena
desfrutava

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Mona, atualiza Monaliza.



Por Vitalina de Assis.


Milhares de Monas
cansadas dos pinceis a pintar singeleza
ousaram dizer:
basta Leonardo!

desejam tatuar no corpo
sinais que as distingam
marcar o rosto
e tímido sorriso
com cores da modernidade
piercing a sentir aromas
outros
no centro do ser
cordão há muito cortado
reivindicam

” libertas quae sera tamem”

jamais será tardia
a liberdade que se deseja
e enquanto sopra a vida
instigas a autonomia do ser.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Faces do olhar


Por Vitalina de Assis.










"Maturidade é ter a capacidade de viver em paz com o que não se pode mudar". (Autor desconhecido)

Talvez muito, desta suposta "maturidade" seja mera acomodação.  O "viver em paz", pode ser uma ferida já cauterizada pelo tempo e lida, um incômodo que  venceu-nos, um passe a régua, uma aderência que somou.  Sendo assim, escolho  o  que bem definiu Fausto Guedes, em seu poema: Amar ou odiar.


[...] A alma tem d’estar sobressaltada
P’ra o nosso barro se sentir viver.[...]
[...] E quem quiser a alma sossegada
Fuja do mundo e deixe-se morrer.[...]


Maturidade para mim está para ânsias, sobressaltos, expectativas. Um rejuvenescer de ideias e sentimentos quando tudo ao redor, parece ressequir. Não pode ser a maturidade um convite para um outono sem fim, um amarelar sem consequências.  Se secam  os sonhos de mudanças, hão de florir e frutificar fartamente na imaturidade da existência. Tudo é transitório e temporário e nada é exatamente o que parece ser. Por ângulos diversos  enxerga-se diferentemente o igual de todos os dias, o que na  realidade, igualdade alguma possui.


Há novidade debaixo do sol. O ar que agora enche  meus pulmões e que expiro em segundos, desconhecido é ao ar que inspiro. Isto é viver e viver é uma arte transitória. Quem considera possuir uma vida inteira para realizar seus projetos, pode perceber no meio ou no início de sua travessia que o tempo, nem sempre  parceiro, segue  a passos largos, impossível acompanhá-lo e, embora por um tempo finja mover-se  ante  nossas retinas, basta apenas uma curva e saiu de foco e o eu idealizador, saiu de cena. 

Viver em paz com o que, teoricamente, não se pode mudar, é viver o óbvio, é aceitar passivamente a intervenção que dói, enquanto fingimos não doer, sem contudo ignorar a dor. Dói. Uma dor anestesiada com ares de necessário e necessário, seria? Sentir, aceitar, abrigar intimamente, esconder? Seria  balançar na rede, que próxima ao chão, sequer imagina-se gangorra? Não sabe o que é sentir o  vento, lançar-se cada vez mais alto, imaginar voar. Na rede, levantar o olhar  é atentar para a superfície e observar suas saliências, cuidar para não cair. Enxerga-se o horizonte quem somente olha para o chão? Olhar e enxergar, olhar e apenas ver, maturidade da visão de quem aprendeu a discernir entre um e outro e, soube optar.