terça-feira, 15 de abril de 2014

Aprendi.




Tenho que deixar passar algumas tormentas para enfim abrir meu coração, sem que ouça a porta ranger. Rangidos incomodam quem, no silêncio da alma repousa e o silenciar-se, é unguento em dobradiças coronárias doloridas, inflamadas. "Deixo-te por hora, aquieta-te"! Aquieto. 

Busco outra saída, uma janela? (Janela é um mundo para quem deseja apenas observar.) Diante da impossibilidade de tamanho êxito, um recolhimento dará conta de tudo a seu tempo. Engana-se quem pensa que o tempo não se encarrega de colocar ele próprio, as coisas nos seus devidos lugares, porém maior engano pratica, quem pensa ser ele, um milagroso remédio para todos os males. Descobri na forçada quietude e em lágrimas não contidas, o bálsamo a libertar angústias como se libertam espontaneamente a seu tempo, borboletas do casulo. 

A angústia pode ser bela e colorida entre flores opacas, em campos inférteis, semeadora de sonhos. Há de se aprender confiança como se aprende a tolerar os rangidos, (podem até soar musicais para ouvidos treinados) como se aprende a forçar a porta, (sem contudo arrombá-la) como se aprende a sair pela janela e ganhar o mundo - universo de tudo que sou fisicamente, totalidade do espaço no qual ouso expandir e no tempo que gerencio.

Aprendo! Aprendo que todas as coisas possuem dimensão e limite, todas as coisas são mutáveis e agentes de transformação. Algumas impostas e tão suscetíveis a um não, que ficamos paralisados ante a possibilidade  de causar-lhes "certo desconforto" com a nossa resistência, então, passivamente aceitamos suas imposições. Ficamos à mercê esperando que dimensão e limite cansados, afrouxem o domínio por si só e no afrouxamento do rigor, nos fortaleça na pacífica ilusão de que foi nosso, o basta decisivo.

Pouco importa na verdade isto ou aquilo, meu ou do outro, quando nos sentimos livres, (porque quem ou o que nos aprisiona, não o fará para a vida toda) abrem-se as grades, soltam-se as algemas em um dia qualquer. De repente nos damos conta de que aquela angústia tornou-se bela e colorida, borboleta semeadora de sonhos, e os campos, cultivados, já dão sinais de que a vida brota entre pedras, espinhos, areia, terra e mar. Tão infalível como a noite precede o dia, todas as coisas acomodam-se nos lugares devidos, tudo a seu tempo. Ainda que minha ótica visualize um tempo sem horas, sem minutos, sem segundos, sabe bem o tempo, o tempo certo.

A vida acaricia com movimentos suaves minha existência, seu afago em minha pele e dedos, que por minha nuca buscam meus cabelos, proporcionam a dimensão exata da importância do meu ser e denunciam que basta apenas um toque para aclarar, todo sentido que não compreendo. Tocou-me! Tal toque concedeu-me perícia para conquistar outros níveis e agora em uma fase onde impera a tranquilidade, notas musicais ouço ao abrir as portas. Ranger...não mais, não por hora.  Compreendo que se mudam os sentidos , muda-se a trajetória e o destino... outro... diviso. 

Aprendi!

4 comentários:

  1. Comentário de selda moreira kalil em 12 janeiro 2013 às 20:04
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    Lindamente escrito,versos que encantam
    Aplausos poetisa
    Meu carinho,meu abraço

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  2. Comentário de SilêncioVozdaAlma.Poesia em 12 janeiro 2013 às 9:58
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    aprendi aqui um bela leitura que enriquece a alma
    bela e sentida escrita, excelente leitura
    bj
    Amartvida

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  3. Um texto excelente para ler e reler. E para reflectir.
    Beijo e Boa Páscoa.

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  4. Um magnífico texto para ler e reler. E para reflectir.
    Um beijo e boa Páscoa.

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