quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A regência divina.

Por Vitalina de Assis.


O vento que balança a árvore, que balança os galhos, que balança as flores e faz um espetáculo pirotécnico natural, tirou-me de um estado de angústia proeminente que introjetava-me em pensamentos quase mórbidos e chamou-me à contemplação das árvores. Uma delas especialmente envolvida pelo vento que a agitava para todos os lados parecia ser impiedosamente molestada, uma vez que de seus galhos,  desprendiam-se suas flores, mas o espetáculo que se via não pareceu-me uma perda, um desconsolo. O que se via não causava apenas um profundo impacto na paisagem, impactava o meu interior; coloria de branco o vento incolor, e pintava em mim novas cores onde só reinava o cinza. Não era invisível ou indiferente aquela força que balançava a árvore.

A árvore-de-paina com poucas folhas, muitos galhos secos e uma quantidade enorme de bolas brancas estava sendo o destaque.

O vento que balança a árvore, que balança os galhos, que balança as flores, agora soprava as bolas brancas que se desprendiam, explodiam e se dividiam em centenas de pequenos flocos que, libertos para seguir o curso do vento pareciam flocos de neve alegres e brincalhões. Alguns ousavam ir bem no topo e subiam a perder de vista, outros contentavam-se no voo rasante e logo estavam espalhados pelos telhados. Eram lançados ao chão e no chão jogados para la e para ca, pouca visibilidade, nenhuma ascensão. Quando finalmente o vento seguisse seu caminho, ali ficariam  para serem levados pelas formigas, pisados, varridos, escoados com a água que viria dos céus, ou por um jato de água que lavaria aquele piso. Eram as possibilidades daqueles que não ousavam subir nas asas do vento. Os poucos ousados podia vê-los bailando, pareciam livres e intrépidos. Acho mesmo que, olhando para cima, eles confundiam-se com as nuvens que majestosas cobriam o céu estendendo seus domínios e anunciando que logo se converteriam em chuva e cumpririam assim, seu desígnio máximo.

Contemplar aquele desprendimento de tão frágeis criaturinhas, se assim posso chamá-las, e o que poderia parecer-lhes uma grande tempestade, fez-me perceber o quanto as situações, às vezes fora do nosso controle são ocasionadas por ventos divinos que querem  desprender-nos da segura árvore e nos lançar para a aventura do voo, para a conquista do novo.

Se ousarmos irmos sobre suas asas às grandes alturas, o céu será o limite e este limite potencialmente não existe. Iremos  tão longe quanto o vento queira soprar, ou tão longe quanto sonhou nossa liberdade. Entretanto, se covardemente, timidamente, ou desousadamente decidirmos pela fragilidade, nosso destino será o chão mesmo após termos voado. O vento vai seguindo seu caminho e a brisa que fica não oferece suporte. Existem aqueles que  se agarram insistentemente à árvore e estão carregados de imaturidade, o que pode às vezes ser um mero engano. Entretanto, não sonham, não ousam, não querem. Perdem a oportunidade de alçar voo, e o vento, não sopra para sempre no mesmo lugar.

A maturidade te dá asas! Decidir usá-las é prerrogativa própria.

10 comentários:

  1. "A maturidade te dá asas! Decidir usa-las é prerrogativa própria."
    Que epígrafe poderoso esse teu Poetisa... assinalou toda a tua escrita, como um revolver magnifico!
    Como sempre é um encanto ler-te, absorver essa serenidade que emana daqui.
    E que grata surpresa, teu filme predilecto:

    "As pontes de Madison"

    Um dos nossos, vistos inúmeras vezes e chorado outras tantas

    e a canção do Jorge Vercilo," Nem um dia" é até difícil falar.

    Um carinhoso abraço, bom estar aqui e bom estares cá.

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  2. O ser humano é comodista. Esse vento há que ser bem forte mesmo, quase a arrancar raizes, para que possamos nos deixar levar e vivenciar diferentes emoções.

    Bjs.

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  3. Querida amiga

    Há palavras tão inundadas
    de verdades,
    que é preciso
    sentí-las
    amadurecer no coração.

    Para ti,
    a calma dos
    sentimentos bons...

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  4. .


    O vento que entre as folhas ralas farfalha
    a flor, dá a luz ao fruto que perfuma o
    ar, cheiro de amor.
    A brisa que te lambe a cara e que te possui
    é o mesmo vento que invade o meu quarto,
    derruba o meu retrato e me embala pra
    dormir.

    silvioafonso






    .

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  5. Vi,

    Talvez o medo impeça o voo. O vento só consegue arrastar àquele que carrega dentro a leveza da vida. E quem carrega dentro a leveza da vida, não se prende a nenhum lugar. Nem às arvores mais altas... E quem tem medo, nem chega ao chão, porque não sai dele. Porque quem tem medo carrega dentro toda a densidade do mundo. Eu quero voar, longe, bem longe, mas ainda tenho dentro alguma densidade.

    Lindo, como sempre é... E reflexivo... E tão seu...

    Amo tudo aqui, pessoa iluminada!

    Beijos meus e da Aninha, minha amiga querida! Muito querida!

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  6. Hola Erica!

    Concordo com você. O medo é uma âncora poderosa a prender-nos. Basicamente ele possui duas vertentes: A primeira é preservar-nos, e (será de fato?) quando o perigo é iminente, este medo, travestido de instinto de sobrevivência, pisca seu alerta vermelho e logo estamos nós batendo em retirada. A outra, mais para um "senhor castrador", trava-nos completamente e cheios de zêlo justificáveis,(tratamos logo de autenticá-los)ficamos a ver navios, enquanto a nossa vida ancorada fica, mantendo-nos na mesmice do dia a dia que passa rapidamente e nem nos damos conta do tempo hábil para levantar voo. Correr, ou ficar acaba dando no mesmo,pois os dois atos podem comportar perdas, retrocesso.

    Medo é peso, coragem é a "leveza da vida" a qual se referiu e também é maturidade, há de concordar comigo.

    Quando maduros, assumimos os riscos, soltamos os pesos, agarramos o vento e voamos intrépidos. Assustados um pouco, mas felizes pela ousadia.

    Voemos amiga, aliás, já te vejo com asas.

    Bjs e obrigada por estar sempre aqui.

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  7. Vi! Pessoa iluminada! Obrigada pelo carinho de sempre, que me abraça sempre quando eu mais preciso de um abraço. É... Estou tentando voar. Às vezes vem alguém e joga pedra na minha esperança, mas ela está aqui, dentro, bem dentro.

    Um ótimo fim de semana também. Beijos meus e da Aninha

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  8. Bello texto, me identifico con sus verdades. Bello. Un abrazo.

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  9. "...medo é peso, coragem é leveza..." - concordo!

    mesmo amadurecendo e mais que sabendo que assim é, o humano generalizando, tenta apaziguar um e outro com o argumento da espera pelo momento adequado.
    o dilema é que nada neste mundo pára enquanto se fica nesse impasse. o que é hábito assistir, é um comportamento que só se presta a acção após bater bem no fundo e já não haver outro remédio.
    contrariamente a nós, a natureza não escolhe momentos adequados para se manifestar. sobra-me a constatação de que quanto mais perto dela mais aprendemos sobre como nos deveríamos comportar com maior naturalidade e voar mesmo com os pés no chão.

    beijo e kandandos meus... inté!
    UBUNTO para todos vós.

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Queridos!

Seu comentário muito me honra!

Sinta-se à vontade para avessar comigo.

Beijos e até.