sexta-feira, 11 de março de 2011

AVASSALADOR!

Por Vitalina de Assis..




 
Haviam combinado que o encontro aconteceria às 10:00 da manhã, ele a pegaria na entrada do Conservatório de Música. Só se conheciam por fotos e ela,  um tanto eufórica,   pensa  em um antigo amor. Tinha grandes expectativas: Seria ele tão interessante quanto? Faria amor tão apaixonadamente? Ficariam a vontade um com o outro? Falariam de suas vidas? De seus sonhos? De seus dissabores? Enquanto conjectura retoca sua maquiagem, reforça o perfume atrás da orelha, nos seios, nas mãos e apesar da ansiedade, é nítido em seu olhar um desejo  que já não visualizava,  no seu entender,  fazia  séculos. Não que fosse dada a não  sentir desejos, tinha-os e sabia reprimí-los a pulso,  tampouco   era frígida como sugerira seu namorado,  em longos  e intermináveis questionamentos. Ela conhecia sua natureza feminina, mas negava-se ao prazer. Como era isto possível? Era  como se toda sua fonte de desejo tivesse sido bloqueada e só agora, por uma circunstância inusitada e ousadia irrefreada, sente uma nova energia circulando por seus sentidos, impregnando sua mente, aflorando suas emoções. Sente-se viva afinal.

Ao sair no hall de entrada, avistou-o encostado na porta de um bar. Não pareceu-lhe o tipo com quem sairia. Sua camisa solta por cima do jeans conferia-lhe uma barriga visível que achatava-lhe a  silueta. Sorrindo aproximou-se e comprimentou-a  com um beijo em cada lado de sua face, como se fossem dois velhos amigos que a tempos não se viam , e isto tranquilizou-a. Andaram alguns metros, trocaram algumas palavras e uma simpatia recíproca instalou-se entre eles, olharam-se um pouco mais e já era perceptível na voz  e nos gestos uma cumplicidade, um desejo de entrega e  deste,  fez questão de não esquivar-se.

Como não haviam vagas próximo à entrada,  seu carro estava bem afastado e qual não foi a sua surpresa quando ele apontou para um fusca, segundo ela, l900 e antigamente. Ninguém possuía um fusca tão velho e nem em seus piores pesadelos e em sã consciência, entraria em um. Não qualificava isto como um " preconceito", eram apenas dolorosas lembranças de infância, uma experiência traumática que fazia questão de esquecer. Um fusca sem cor, (como se isto fosse possível) em péssimo estado de conservação, mal podia acreditar naquilo. Ele gentilmente abriu a porta e esperou, ela ficou estática entre o entrar ou dar meia volta e bater em retirada. Entrou. Acomodou-se e ficou observando-o com uma expressão meio incrédula. Suas dúvidas agora resumiam-se em duas escolhas: vou até o fim com este homem, ou saio agora mesmo e nunca mais penso nele. Ele aguardava um sinal com um misto de ansiedade, desejo e certa inquietação, mas não ousou pressioná-la, apenas esperou que ela se decidisse.




Instintivamente aproximou-se,  beijou-a suavemente e aquele beijo dizia-lhe que o melhor ainda estava por vir, aquele beijo falava de desejo, entorpecia e não poderia, ainda que ela  quisesse, sair daquele carro. Afastou-se e  olhou-o ternamente tentando assimilar suas intenções, perceber seus pensamentos. Novamente seus lábios comprimiram os seus  e suas mãos delicadamente em sua nuca desarmou toda e qualquer resistência. Estava entregue! Entregou-se àquele beijo, entregaria-se àquele homem, entregue estava àquele fusca, nada mais  importava. Queria amar e ser amada e sua tarde, só terminaria ao crepúsculo, com as cores do entardecer, com o bater dos sinos às 18:00 na viração do dia.

Seguiam agora em direção à saída de sua cidade. Motel Espelhos, novo destino.  A conversa fluía alegremente e como ela esperava, falavam da vida, dos problemas, riam da chuva que tagarelava entre eles e ouvia-se segredos. Dizia-lhe de sua separação, de sua esposa que o trocara por outro que tinha mais dinheiro, da depressão na qual mergulhara e da mudança de emprego, de bancário para professor de história o que servira para dar um novo sentido à sua vida. Mais alguns minutos,  e entre flores e verde podia-se avistar o refúgio para algumas horas ausente de tudo e de todos.

Quantas vezes  observara aquele local ao passar por aquela rodovia e quantas vezes, fantasiara devaneios, encontros furtivos, no entanto  jamais poderia imaginar que a menor de suas fantasias pudesse materializar-se em seu universo tão cotidiano, tão doméstico, tão aquém de expectativas excitantes. Estava às portas, e com um quase desconhecido homem prestes a viver algo que não vivenciara nem em sonhos.

O quarto espaçoso e muito bem decorado trazia uma sala de espera, uma mesa, duas cadeiras e alguns quadros na parede. Conforme haviam combinado. sentariam naquela  sala e decidiriam ali,  a permanência ou não naquele local. Para ela este acordo perdera o sentido no momento em que se beijaram pela segunda vez. Suas mãos em sua nuca decidira por ela. Sentaram-se   frente a frente e entre olhares em chama, sentiu seus lábios roçando levemente, mordiscando,  beijando sua boca que se entregava ávida e  sem descanso. Tentou lembrar-se de  semelhante beijo, tentou lembrar-se do calor que percorria seu corpo e como um sinistro devorava suas entranhas, em vão buscou na memória. Se existiram um dia, foram largados  em um canto qualquer de sua existência.  Esquecida, sua sexualidade contentava-se com um pouco que só agora percebera ser um nada, um nada sentir, um nada gozar, um nada viver. Sentiu dó de si mesma, sentiu repulsa por uma vida desprovida de prazer, envergonhou-se de ser mulher e de  se compreender tão pouco. Como pôde durante toda uma existência negar-se a isto? Como foi possível viver uma sexualidade desprovida de mínimo prazer? Como pôde ser fiel a tanta infidelidade consigo mesma?  Não parecia ser aquele  o momento ideal para tantas reflexões e lamentos, mas alguém, que ela havia deixado ao relento, abandonada à sua própria sorte saía enfim da escuridão e cobrava seus direitos, desejava retomá-los. Sem resistência e cônscia de que deveria ceder, afastou-se.

Ele aproximou-se de sua cadeira e sentou-a no seu colo. De pernas abertas sobre seu membro e sentindo sua rigidez, contorcia-se prazerosamente,  o que  transmutava aqueles beijos ardentes em um fogo que consumia sem piedade suas entranhas. Ficaram assim longamente, perdidos entre beijos, abraços, sussurros e gemidos. Deixou-se seduzir... seduzida... assume o controle... beija, rebeija, se deixa beijar entre beijos, cheiros e seios... e sem lugar,  se encontrava,  não mais em sonhos e meros desejos ao vento de uma  inexistência.

Aos beijos  é carregada para a cama. Suavemente ele  se deita sobre ela e  ainda  unidos pelo beijo sente seu peso, seu peito comprimindo seus seios, suas pernas sobre  as suas  e seus braços entrelaçados. Aquele abraço intenso e prolongado realizava uma troca, retirava sua  carência, seus medos, e devolvia-lhe amor, paz e uma felicidade que parecia irreal. Literalmente enroscou-se  naqueles braços, gemia e queria entrar naquele abraço e  perder-se em ondas de prazer. Interessante como um abraço pode significar tanto, pode  envolver nas raias do incompreensível e energizar de tal maneira que tudo o mais perde o sentido. Só importa agora os braços que oa possuem. Não há minutos determinando o fim, não há constrangimentos que os afastem, não há cansaço em seus braços. Não tinha noção de quanto tempo durou aquilo. Despertou-se quando  ouvi-o dizer em seus ouvidos uma verdade que já sabia e que a conduzira até aquele homem, até aquele encontro, até aquele dia.

"Sinto que está precisando muito disto. Sinto que deseja ser amada,  deseja ser possuída não por um homem, não por um membro rígido, não por estarmos exatamente aqui. Sinto que deseja amor, deseja carinho, deseja ter, e o que quer que aconteça aqui que seja muito especial! Te dou o meu amor, te dou meu carinho e te faço especial nesta tarde! Te faço mulher! Minha fêmea plena! Meu tesão absoluto!"

Continua a espalhar beijos  e passando a   língua por todo o seu corpo. Sua blusa  desabotoada, delicadamente expõe seu colo, seus seios, seu ventre. Seu beijo e lambidas quentes, mapeia sua orelha, detém-se por ali, contorna, recontorna, redesenha, sopra, incendeia, apaga, queima e gela em seguida com um suave sopro. Sua nuca  enlouquecida se entrega, se esfrega naquela boca, seu pescoço se pronuncia e grita por atenção. Aquela boca não para, está sobre o colo, descansa. Ele a olha nos olhos e aquele olhar  tem mais brilho, mais fogo, tem um misto  de desafiador e autoritário. Entendeu. Obedeceu; Fez exatamente o que ele queria. Aquietou-se, jogou seus braços para cima e deixou-se prender por cordas imaginárias, não poderia se mover e seus olhos não fugiriam daquele olhar. Sorriu para ela, um sorriso safado de quem diz,  agora sim  te tenho como quero. Minha prisioneira, minha escrava, minha deusa.

Seus seios agora se tornam seu alvo. Suas mãos delicadamente os alisam como quem prepara uma terra para receber a semente, é cuidadoso e meticuloso neste alisar. Sua boca o golpeia, são agora lambidos, chupados, mordidos delicadamente e dolorosamente vibra seu corpo, abre sua boca, sorri, morde os lábios e antes que seus gemidos irrompam e façam som naquele silêncio, ele a beija, sufoca seus gritos, seus gemidos, seus uivos de loba.

Silêncio. Não quero que grite, não quero nenhum som. Só a sua face, seu rosto, seus olhos vão gritar para mim. Sua expressão facial me dirá tudo que preciso saber.

Como silenciar quando tudo em você parece gritar e gemer? Não importa. Não agora.  O que viria a seguir seria ainda mais avassalador.

12 comentários:

  1. Vitalina, minha amiga!

    Que bom ler mais um texto seu.

    Ufa! Estou sem fôlego até agora. Em uma palavra digo o seu texto: Avassalador! Assim como esse encontro entre sua personagem e seu libertador.

    Adorei,sobretudo pelos detalhes!

    Beijos, querida!

    Keka

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  2. Hola Keka!

    Batizastes meu texto.

    Gracias!
    Besos.

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  3. gostei muito do texto, achei ele meio picante, mas e super bom seu novo texto =)
    parabéns sucesso sempre
    beijo

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  4. Menina!!!!!

    Adorei este conto! Extremamente envolvente, feminino e libertador.

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  5. Ei Vitalina!

    Tirei o dia para ler e comentar seus textos, este em especial flertou com a minha imaginação, meus sentidos, e juro que além da perda de fôlego, me solidarizei com esta jovem do seu conto. Como um personagem sem nome pode nos envolver tanto assim? Senti compaixão e fiquei extremamente feliz por tudo que ela vivenciou. Apesar de ser apenas um conto, acredite, ele cumpriu sua função cartática em meu momento.

    Sua narrativa fez com que eu vivesse um pouco desta estória.

    Bjs.

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  6. Ufa! Gostei do ritmo, dos detalhes e da sensualidade à flor da pele!
    Você consegue trabalhar bem as palavras, nos sentidos e nos sons..
    Vou continuar explorando seus dizeres!
    Grande abraço!
    Adilson Alvim

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  7. que blog maravilhoso! com conteudo, cheio de formas e sentimentos, e com belos contos, parabéns, se quiser conehcer mais meu estilo é nesse enderecinho:

    http://www.pequenosdeleites.blogspot.com

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  8. Lindona,
    Este texto terá meu comentário depois...

    Agora, estou chegando da coluna de Sandra Maia e acabo de ler o "SEU" texto lá: Que carinho!!!!
    Estou "encaramujada" na minha solidão, sem coragem para nada, só trabalhando muito e sentindo-me culpada, mas depois de suas palavras, cá estou escrevendo!!!!
    Você é demais!!!!
    Leia o que lá escrevi!!!!!!
    BEIJOOOOOOSS
    Soninha

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  9. Oi Vitalina.

    Que conto sensacional! A meu ver não faltou nada, sutil, erótico sem ser vulgar e com uma poesia, rítmo, sentimentos e como não poderia faltar, muito desejo e prazer. Amei seus personagens e a forma como narra, nos coloca na cena e quase....

    Bjs, muito sucesso para ti.

    Anna.

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  10. Comentário de Luiz Mário da Costa em 6 fevereiro 2012 às 17:02
    (Transcrito da minha página, na Casa da Poesia que foi desativada.)

    - Vitalina poeta desenrolada, só tu mesmo pra postar um romance em plena segunda-feira de inverno em algumas cidades e calor em excesso em outras.

    Pude detectar no seu romance, que a libido venceu a velhice do fuskinha rsrsrsrs. Um romance que nos envolve a cada estrofe, repleto de ...hummmm... num sei se diga ou se fique calado rsrsrs...gemidos e sussurros.................

    Bróis...................

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    1. Comentário de Vitalina de Assis em 6 fevereiro 2012 às 18:53

      EI AMIGO BRÓIS!

      Só posso dizer que aqui onde estou, o sol quer colocar o mais severo inverno em bolsos Coruscante!

      E quanto à velhice do fuskinha, acredite amigo, ainda encaram uma estrada ladeira acima, ribanceira abaixo, só depende do combustível, rss.
      .

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