sexta-feira, 25 de março de 2011

Família... “fami”... “ilha”... “lost”.

Por Vitalina de Assis.



A moda nos dias de hoje é ser “pião” e girar sem cair até a exaustão, em torno de si mesmo, em torno de suas vontades, em torno do seu umbigo real. Este sim é um “problema embaraçoso e humano”.

MODERNIDADE, INVERSO DE PROXIMIDADE.

Tem algo mais inquestionável do que isto?
Hoje tive a oportunidade de ler um poema quase em prosa (perdoem-me por não citar o nome do autor, se tivesse ideia de que fosse usá-lo como exemplo, teria tido o cuidado de anotá-lo) que versava sobre um cidadão do campo e suas andanças no lombo de seu cavalo. Contava de sua vida , de seus amigos, citava nhozinho João e nhozinha Ana com sua xícara de café excessivamente preto e quente. Me vi pelos pastos acompanhando aquele viajante, visualizando sua vida simples, porém cheia de alegrias. Ao encerrar o poema percebo que aquele homem narrava de fatos vividos no passado, e no atual presente,  estava o mesmo, com um diploma em suas mãos com ânsia de rasgá-lo em pedaços, de voltar no tempo, e gozar do seu passado agreste.

SAUDOSISTA?

Já sentiu saudades de tempos idos, da pessoa que era e das relações que possuía com amigos e família? Os mais antigos certamente dirão que sim. Saudades da simplicidade do dia a dia, do pé no mato , do cheiro da chuva ao bater na poeira quente e árida. Do a “benção meu pai,” a “benção minha mãe”, dos avós tão presentes, e da casa cheia de primos nas férias?

Sente saudades de jogar finca, bola de gude, pular a amarelinha? No recreio correr atrás da bola e ao voltar para a casa, debruçar-se sobre livros e fazer o dever de casa? (hoje debruçamos sobre um teclado, e tome ctrl c e ctrl v). Os "saudosistas" viveram situações que a “modernidade” roubou dos nossos filhos que provavelmente, nunca viram uma finca, e quem sabe nem  terra barrenta. Não chamam os tios de tia Ana, tia Maria, tio Carlos. Hoje  o tio é Paulo, a tia é Silvia, alguns avós ainda são o vô, ou a vó, mas e amanhã? Alguns pais possuem nomes, são Ana Carolina e José Eduardo e ao invés de a benção meu pai, ou mais coloquialmente, “bença pai”, “bença mãe”, é um tchau, ou quando muito, apenas um olhar, nada mais.

Nossos filhos não brincam! Interagem. Matam bichos e gente com os dedos e com a mente, não são dependentes emocionalmente, são a geração forjada para vencer a todo custo! Mais racional, muito menos afetiva. Os pais são seres livres, alimentam o corpo e se esquecem da alma dos filhos. Da família trazem a noção apenas de um endereço que podem por pouco ou quase nada mudar de cep, mudar a chave, mudar o acesso, mudar de cidade.

MODERNIDADE!!!

Família não necessariamente, um casal hetero e filhos.
Família não necessariamente, mães solteiras.
Família não necessariamente unida, como uma árvore genealógica a produzir frutos.
Família padrão,  família despadronizada, família, “fami”, “ilha”, “lost”.

HELP!!!

Socorrem as baleias, pandas nascem em cativeiros, homem “terra” sonha em colonizar estrelas, nossas florestas incendeiam, e nossos filhos crescem à margem do carinho de mãos, de abraços e beijos. Não sobem em árvore, não comem a fruta quente sobre os galhos, não brincam nos quintais.

DO HOMEM COM O DIPLOMA NA MÃO  recordo-me agora.

Um papel “suado” e “caro”(alguns ao preço de família, saúde e filhos esquecidos), um conhecimento “arretado” e uma saudade sem fim dos tempos de liberdade da vida simples.

É POSSÍVEL REVERTER TUDO ISTO?

Modernidade não se joga fora como lixo, não cai em desuso por precariedade, nem se dá ao luxo de virar passado.
Modernidade não substitui um olhar amigo, uma mão estendida, uma proteção com honra e dignidade.
Modernidade não cumpre o papel da família, não tem “seio familiar”, não amamenta sua prole.
Modernidade não institui caráter, tampouco substitui. Não abençoa filhos, não forma irmãos, não se dá com primos.
Modernidade não risca o chão, não pula amarelinha, tampouco corda.

MODERNIDADE, SE VIVE SEM ELA?
NÃO!
ENTRETANTO PODE-SE ENSINÁ-LA A SER PARCEIRA, QUEM SABE ORDENAR QUE FIQUE SEMPRE NO SEU LUGAR: “MEIA VOLTA, VOLVER”!
PARCEIRA SIM, SUBSTITUTA NUNCA!

8 comentários:

  1. Vitalina, em primeiro lugar quero agradecer sua visita ao meu blog. "Interagir" com você é sempre muito bom pois, dessa interação, surgem reflexões maduras e consistentes.

    Eu é que quero parabenizá-la pelo seu blog. Você não precisa de mais nada além de suas sábias palavras para atrair seguidores. Sua preocupação é unica e exclusivamente deixar falar o coração com a maturidade de uma mulher que sabe o que quer (pelo menos é assim que te vejo).

    Bem... Quanto ao texto de hoje, infelizmente tem sido assim. As pessoas se perderam com a modernidade, esqueceram da delícia que é a simplicidade. Simplicidade para mim, é estar com minha família, educar o meu filho impondo-lhe limites, ensinando-o valores como dar-lhe a benção quando ele acorda pela manhã.

    E assim vai.

    Tudo de bom e muuuito sucesso querida.

    Bjs.

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    1. Passeando por estas páginas, encontro alguns comentários que me são extremamente caros, sem a devida resposta, (na época não tinha ativada esta função) e ainda que pareça tardio demais responder e talvez nem seja lido por quem realmente interessa, sempre é tempo de refletir e evocar lembranças que nos fazem bem.

      Entretanto, "assim caminha a humanidade", infelizmente antigos ensinamentos, diria, norteadores se viram obrigados a perder seu norte, ou melhor, os lançamos na periferia dos dias que se vão e muitas vezes esquecemos de ensiná-los como nos ensinaram nossos pais.

      Um belo dia observamos que nossa negligência em ensinar, é uma nota promissória, cujo resgate vai custar caro.

      Aprendi de um jeito, tentei ensinar de outro e o resultado, deixou muito a desejar. Se eu pudesse voltar no tempo, aplicaria um maior rigor em coisas tão simples, mas extremamente fundamentais.

      Não volta o tempo, não volto eu. Infelizmente.

      Bjs,

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  2. Vi, minha amiga querida!

    Texto maravilhoso. Alude conceitos fundamentais, que hoje, se perdem sem deixar vestígios. Como é bom viver a simplicidade da vida... Não se trata de saudosismo ou retrocesso. É apenas uma constatação de que alguns valores praticados no passado se perderam de nós, e hoje, agora e no futuro próximo, nos são caros. Eu, graças à educação que tive, consigo preservar alguns valores perdidos no meio dessa modernidade toda. E sou feliz assim... E você também, né?

    Texto maravilhoso. Inteligente e bem fundamentado.

    Como eu já disse publicamente: Ler você é um alento.

    Estava com saudades.

    Beijos

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  3. .

    Aqui eu não vejo a mesa de jantar ou
    o altar de todas as orações, mas um
    parque aonde eu piso a grama e nela
    estendo o xadrez de uma toalha para
    um final de tarde nos domingos.
    Aqui não tem jogo de azar com o
    choro da perda ou grito de sorte.
    A festa é do saber, do perceber e
    de amor. Nas entre sílabas de cada
    frase dita, um SOS de aflitos, uma
    correção de rota em pleno voo, uma
    oferta de beijo, de abraço. Uma
    entrega incondicional da vida de
    quem fala à vida de quem dita, de
    quem reza, de quem fica...

    silvioafonso





    .

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  4. Ei Vi, sensacional este texto. Nossa modernidade tem roubado algumas coisas essenciais, a simplicidade é uma delas. E quem mais sofre com isto são as famílias que mal se veem nos finais de semana. Nossos pcs recebem mais atenção do que o que tem a dizer nossos familiares. Bjs no seu coração.

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  5. Oi Vitalina.

    Me deu saudades do meu tempo de infância, também joguei finca, rs. Na minha casa ainda temos o costume de tomar bença. Me preocupo com pequenos valores que vão ficando esquecidos pelo caminho e lá na frente vão fazer muita falta.

    Muita luz para você.
    Bjs e até,

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  6. Lindinha,
    Saudade boa! Recordação feliz!
    Estou como você: gritando, procurando "SOS", pois essa "modernidade" vem como "UM TSUNAMI", arrastando tudo!!!
    Sua sensibilidade aguça a minha!
    Minha família esta tão pequenina e "EU", também tão pequenina, com 1m57, sou agora a "Chefe".
    Meu pai morreu e descansou!! Este nunca me traiu!!! Como me orgulho dele!!!!
    - Bença, PAI!!!

    O pai do meu filho nos abandonou. Ao separar-se de mim, ama o filho à distância, como ele diz. Como se isso fosse possível...
    Agora cuido de "Mamãe", cuido do filhão e de Mim! GRAÇAS A DEUS!!!

    As suas palavras"tocaram"!!!
    As suas palavras trouxeram muitos sentimentos à tona!!!

    Como é difícil ser moderna!!!
    SOS

    Bjoss!!!

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  7. um prazer ler você ...
    é .. onde há relação, há complexidade ...
    e onde maior relação do que a familiar, sejam quais forem os laços? família é o carma pessoal de todos nós ... não importa como ela seja, sempre trará traumas no Ser.

    gosto de tuas reflexões e tua forma de escrever ... beijo ...

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