quarta-feira, 10 de abril de 2013

Bobagem.

Por Vitalina de Assis.

Bobagem
pensar assim,
bobagem incluir o outro em nossas únicas e por vezes, descabíveis expectativas. Não se soma quando não há o que somar, mas se divide completamente o nada, ironia de quem não tem o que compartir. Cansei deste vácuo que ostentava título de propriedade, fingia-se "pertenço", falsa unidade pareada. Se na conjugação carnal, os dois uma só carne mentira absoluta - os dois, "únicos", extremos periféricos, inatingíveis!

Bobagem,
não tem um dia sequer em que  não pense nele, não tem um segundo que não o deseje e não tem um milésimo de segundo "eterno", em que eu não acredite que possa acontecer, que talvez  mereça.

Bobagem
achar que pode ser uma história de amor emaranhada e que eu tenha a missão de desembaraçá-la.

A tristeza deseja caminhar a meu lado, eu apresso os meus passos e ela se cansa, então descanso eu e ela me alcança. Sussurra hipnoticamente ao meu ouvido , por pouco não me envolve em seu mantra, no entanto por um descuido, por achar me ter nas mãos, desconcentra e  solta-me. Me solto, pois compreendo que a incerteza não é produtiva, é uma esfomeada que não se farta, mas não é forte o suficiente para as rédeas  nas mãos, reter.

Descobri que a alegria é chave que abre portas, que conquista, que produz resultados e entre  apegos da tristeza, é clarão repentino, a porta que se abre. Exatidão matemática? Pode ser que sim, pode ser que não! O resultado, no final das contas, dirá.

sexta-feira, 29 de março de 2013

ENXERGANDO A PÁSCOA COM UM OLHAR DIFERENCIADO.

Por Vitalina de Assis.


A Páscoa nunca deixará de trazer à nossa memória o maior e mais importante evento do Cristianismo: a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo, e de quão gratos devemos ser por tamanho sacrifício, entretanto, quero caminhar por outra faceta da mesma e dialogar com você. A Páscoa foi instituída quando Israel era escravo na terra do Egito e, quando as medidas desta escravidão já não comportavam mais uma nação, clamaram por liberdade.

Tudo na vida possui uma medida e é no transbordar destas medidas, sejam elas aparentemente saudáveis, ou aparentemente enfermas é que visualizamos a possibilidade do êxodo. Deixar uma vida de escravidão para trás e se lançar para uma vida de liberdade não é fácil, tampouco confortável. Os pensamentos e atos, supostamente livres, não sabem exercer a autonomia, não foram treinados para isto e se não formos ligeiros, atar-se-ão novamente ao antigo feitor. Ciente deste comportamento nocivo à liberdade, os israelitas receberam de Deus uma orientação a ser seguida à risca, pois disto resultaria, o sucesso do êxodo.

“Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do Senhor.” (Êx.12:11)

Não entrarei em maiores detalhes, basta dizer que deveriam se alimentar de um cordeiro sem mácula por família e que não deveriam fazê-lo em festa, em uma mesa bem posta, e com tempo aprazível para degustar tal banquete. Deveriam comê-lo já preparados para “bater em retirada”, vestidos apropriadamente, sandálias em “punho”, cajado (instrumento indispensável para a grande travessia) e à “pressa”.

Ôpa! Não é a pressa a inimiga da perfeição? É o que dizem e é no que  a maioria acredita e alguns seguem pela vida entoando o mantra: “Ando devagar porque já tive pressa”, veem seus dias arrastando-se lentamente e quando se dão conta....Sobra-se então vacilo, desistência, comodismo, inaptidão para romper, e uma vida à margem da plenitude.

Aquela nação escrava não poderia correr o risco de ser seduzida pela escravidão e abrir mão da liberdade, que a Páscoa acenava-lhes. Quantas “páscoas” ainda teremos que vivenciar para enfim sairmos do cativeiro? “Comê-lo-eis à pressa, é a Páscoa do Senhor”.

Suas medidas estão transbordantes? Ser refém desta situação já é quase impraticável? Alie-se à “pressa” e perceba que os dias estão repletos de oportunidades e muitas delas significam deixar velhos hábitos que nos escravizam, abrir mão se zonas de conforto que estão mais para momentos de guerra civil, e optar pelo pleno exercício de nossa autonomia, o caminho para uma vida de liberdade.

Por vezes precisamos nos libertar de alguns pensamentos nocivos, opressores, que nos mantêm cativos em lugares incomuns sem a menor possibilidade de ascensão e progresso. Páscoa também é  isto, o momento ideal para fugir rapidamente de situações que nos oprimem.

terça-feira, 19 de março de 2013

Vai-te!

Por Vitalina de Assis.






A solidão, muito presente nos dias atuais, assume ares de celebridade e insiste em ser amiga íntima, quase inseparável,  de pessoas comuns. Está presente em todas as camadas sociais e não é privilégio apenas para os descasados, para os que terminaram um relacionamento a dias ou a tanto tempo, que só restou dias incontáveis, ao assumirem a proporção de infinito.

Por mais que busquemos na memória, não nos recordamos mais de dias felizes em boa e indispensável companhia. A Solidão seduziu-nos...cedemos aos seus encantos e nesta simbiose sem benefícios recíprocos não mais nos reconhecemos, mas até quando? Não nos enganemos, estar pareado não significa não estar só. Já viveu um relacionamento em que o outro, presente sob o lençol, no café da manhã despertando-nos, no almoço se comunicando, no jantar descansando o olhar, entre uma notícia e outra em olhos desatentos, falando de frivolidades do dia ao cair da noite? E outra vez sob os lençóis aquecendo os pés, tomando nosso espaço, apossando-se de  nosso travesseiro... e no meio da noite ou do dia, você se pega na mais perfeita solidão e abandono?

Como não foi possível dividir pensamentos? Compartilhar angústias, problemas no trabalho, as injustiças do chefe e quem sabe, novos sonhos e desejos? Tão perto e tão alheio, duas distãncias que se grudam não seria a mais cruel das antíteses? É esta solidão que machuca, que rói por dentro, que desestrutura os alicerces de qualquer empreendimento a dois, de qualquer projeto a curto e longo prazo. Que inviabiliza a realização de sonhos, que impede o passo seguinte, a próxima curva, a mais longa e nova aventura. De repente estamos falando, gesticulando, amando, procriando, buscando o prazer sozinhos! É possível tocar quem está ao nosso lado, mas é impossível sentir seu calor, seu cheiro, sua empatia. Nossa relação, outrora forte por comportar uma cumplicidade, torna-se ainda mais forte para albergar uma solidão crescente e desafiadora. Nos tornamos a soma total de todos os vãos à nossa volta. É esta a solidão que impera em nossos relacionamentos? Se for um sonoro sim,  a resposta, o que fazer então?

Não acredito no futuro saudável de uma relação deste porte, haja vista muitas delas terminarem antes de nos darmos por vencidos, sendo assim, se já era, por quê nos prendermos ao passado como se à nossa frente não nos acenasse um futuro brilhante? Ficar só, ser trocado (a) como se troca uma roupa,(talvez esteja mais do que na hora um novo modelito) pode não ser o fim do poço (e nem a isto se propõe, acredite!) ou a mais triste assolação que "finge" possuir poderes de abate. É certo que ficamos meio lost e ilhados, (p. da vida) mas convenhamos, nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Cabe a mim, somente a mim, delegar-lhe ou não, este suposto poder.

Sendo assim, decida-se por um novo olhar, considere ser este o início de uma escalada ao topo do seu sucesso pessoal, (está mais do que na hora de priorizar seus interesses) ao arregaçar das mangas, e ao que considero imprescindível, uma dádiva - resgatar sua própria identidade. Acredite mais em si, invista em seus projetos, em sua carreira. Afinal, “levanta, sacode a poeira, dá volta por cima” pode não ser apenas mais uma canção.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Em algum lugar.

Por Vitalina de Assis.




 
Um dia viajarei para lugares longínquos
onde sonhar
seja o ar a encher pulmões
e luz para recônditos esquecidos
Lugares espelhos que reflitam nitidamente
o que não vejo e  desconheço a meu respeito
que espelhem oportunidades que repousam sobre meus ombros

                                                          (não as culpo
                                                                         se cantei-lhe cantigas de ninar)

despertando-as desta inércia  que torna  lento meu andar
e  cumpram seu papel despertando-me também
                                                                         (não me culpo
                                                                                        se  cantei-me cantigas de ninar)

embora todos os dias um culpar me oculte em abraços

Lugares que resgatem vidas desatreladas do meu eu
que  espiam e desejam tocar-me
atrelar-se  novamente
ocupar vazios da minha alma que me custam
que degustam meu ser fortalecendo-se diariamente
não desejam albergar vazios que me enfraquecem
anseiam compor meu ser
vestir minha alma
libertar tantas e tantas
expulsar  tristezas que oprimem
                                                                                                                          (cantigas de ninar mortais matam
                                                                                      e finjo dormir)

Lugares artísticos aonde a arte de viver
pincele cores sobre o reinante gris
e súditos incolores,
serviçais submissos
apagados
e refeitos pinceis insubmissos
pinceladas
militantes da subversão
solapando sorrateiramente a moral do conformismo
                                                                                                                   
                                                                                                                    (Cantigas de ninar se calam  
ouço o retumbar dos tambores)
Lugares lúdicos
Prazer em fazer e ser
Ora criança, ora mulher
Ora me escondo, ora me acho
Ora compreendo minha essência
Aceito meus medos
e a solidão que me cerceia
parceira fiel
ora conflitamos

Entre jogos se habilita a disputa
não mais criança
nem tão mulher
apenas sobrevivo.
                                                                                                                                        (Cantigas de ninar,
                                                                            não mais. Silêncio.)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sabonte e Água Quente.

Por Vitalina de Assis.









 A angústia é um ser intrigante! Quando penso que nos despedimos efetivamente, me surpreende em um abraço tão intenso, que chego a pensar ser amor, o que gentilmente me oferece.


Acordei com a ligeira impressão de que este dia, nada poderia oferecer que me entristecesse de alguma forma. Uma destas esplêndidas manhãs em que o nosso primeiro pensamento é de gratidão, e não importa se faz sol ou chuva.  Obrigada! Estou viva! Despertei! Despertamos incrivelmente mais leves, flutuamos como o vapor que nos aquece em um banho que promete lavar o corpo e deixar escorrer pela pele todo vestígio de sonolência, toda preguiça que ainda insiste. Desperta-nos a impressão de que sabonete e água quente, serão capazes de passar a limpo todos os sonhos, desfazendo pesadelos, energizando vontades e desejos. É assim que nos revigora o banho matinal? Possui tais poderes a água que escorre do chuveiro?

Pessoas mais sensatas afirmariam que tal banho,  em dimensões reais, não existe. A água e espuma que limpam o corpo não penetram na epiderme, não viajam até as entranhas do ser lavando alma e sentimentos, não concedem ao interior a essência aromática, não vaporizam deixando úmidas as paredes ressequidas. Sequer possibilitam aos espelhos do sentir uma névoa em que se possa rabiscar, escrever impressões aleatórias, imprimir desejos, forjar uma promessa.

Pessoas mais sensíveis viajam feito bolhas de sabão que se sentem livres para voar. Leves e flutuantes  possuem  o "céu"  como limite, entretanto de repente , pluft, explodem e segundos depois, quem ainda se lembra delas?  Não percebem sua existência efêmera, sua fragilidade pulsante, seu voo sem sentido para um pluft... nada a imprimir em azulejos, espelho, vidros. Sequer tocam o chão. Não nos sentimos da mesma forma, em 'dias especiais'? Leves,  flutuantes, intocáveis em um voo sem limites? Então a  realidade nos toca e compreendemos nossa efemeridade. Somos felizes na nossa  essência? Acreditamos em água morna e sabonete?

Banhada e sem consciência de que tudo isto ocorre em um simples banho, visto roupas previamente escolhidas, embora não tenha escolhido com igual zelo,  os sentimentos a cobrir outros desnudos. Saio semi-vestida sem a percepção  de que, a nudez exposta, compromete a sanidade emocional que requer manhã e dia. Sentimentos descobertos são convites irrecusáveis para que se cubra, a todo custo, tamanha exposição. Então minha leveza bolha de sabão, desnuda e vulnerável, sente achegar-se sorrateiramente, um véu pousando-lhe sobre os ombros como se fosse amigo (entretanto, sem aquela sensação de bem estar, segurança e afeto desconfia de suas intenções) aconchegando-se, sussurrando-lhe pensamentos imprecisos em uma sucessão lógica. "Sente-se tão eufórica e toda esta euforia, roubou-lhe o tempo de vestir-se adequadamente"? "Não se coloca a descoberto  sentimentos infantes". "Podes afirmar que o que sentes é suficientemente seguro de si?"

O tempo frio e úmido, bem  queria tocar-me,  no entanto, minhas vestes só permite-lhe passar ao largo, sem sequer encostar na  minha pele e apesar do desejo de eriçar meus pelos, afasta-se.  Inadequadamente vestida? Não! Mas como explicar a transitoriedade da minha alegria? Esta impressão tátil e o toque de aspereza sobre mim,  fora suficiente para alterar meu estado de espírito. Sinto-me escorregar pelo véu que dos meus ombros salta, estendendo-se sob meus pés. Escorrego por uma tristeza líquida, aquecida, um "me tens em seus braços" e apesar do desconforto, não ouso erguer-me.

À minha volta,  percebo um esforço redobrado do cotidianamente diferenciado chamando-me para observar o inusitado. Dezenas de garças graciosas, enfileiradas, altivas, imóveis mirando o céu  viravam-se lentamente em minha direção, algumas retornavam de um voo calmo e outras abriam as asas para voar. Ao lado, um bando de biguás mergulhavam cronometradamente em busca de alimento e seguiam mergulhando, alimentando-se. Busquei em vão  na minha memória, manhã semelhante, pareceu-me um espetáculo inédito e verdadeiramente o era. 

A vida pulsante, em uma ordem tão precisa, encantava meus olhos e sentimentos, lentamente senti-me erguer. Se o que está a seu redor se esforça sobrenaturalmente para chamar sua atenção, atente! Sustentável é permitir que seus olhos se  fartem da beleza, ao invés de  ficar  despertando dores que repousam. Tudo a seu tempo se acomoda, tranquiliza. Parecia-me  tolice imaginar que tamanho espetáculo, estivesse sendo orquestrado com o único propósito de fazer-me emergir da líquida tristeza aquecida, afinal, quantas vezes nos sentimos indignos de um olhar amigo, de um amor sincero, de um mover divino? Sem que me desse conta, meu estado de espírito agora diferente de minutos atrás, tornara-se alvo de uma ministração de doses de otimismo e inexplicavelmente, fazia-se nítida a impressão do banho - desliza sobre a pele sabonete e água quente, um sob a regência do ir e vir,  o outro, enquanto permite a torneira aberta, enquanto a mão não solta o sabonete e interrompe o prazer do banho.  Sentimentos descobertos, cubro. 


A angústia, como tudo mais, possui seus segredos, seus sabores, suas faces, seu jeito próprio, por vezes, torto, acertivo, insistente! A pitada, a gosto.