sexta-feira, 30 de março de 2012

Zis salabrim! A mágica sou eu.







Ouvi uma canção “mara” a caminho do trabalho, tão antiga, quanto alguns dos meus sonhos, tão coerente como a realidade do tempo que se escoa e que não se ajunta de novo, seja você rico, pobre, preto, branco, homem, mulher, ser vivente.

Se temos noção de que a vida segue religiosamente como um ritual jamais profanado, que é metódica na mesma proporção em que é flexível, que é doce e suave e pode na mesma esfera, ser dura e implacável, espera ela, alguns segundos? Uma fração de segundos? Consegues imaginar o que é isto? Espera o quê? O que achamos que a “vida” espera de nós? Que sejamos perfeitos? Um ser humano invejável? Uma pessoa amorosa? Um profissional bem sucedido? Um ser solidário, feliz, completo? Espera gestos de extrema bondade e um amor ao próximo expresso em atitudes bem mais contundentes, do que simples blá, blá, blá? Poderia prosseguir por páginas e ainda assim pecaria, não por excesso, mas por omissão de algumas coisas que talvez a vida espere apenas de mim. Seria muita pretensão de minha parte inferir isto? Ou ainda acreditar que pelo simples fato de sermos únicos e diferenciados em uma série, (acredite, o somos) existem coisas que só compete a mim, o feito de realizá-las?

Já acordou com a estranha sensação de que está em falta? Já levantou da cama com a impressão de que parte de você ainda dorme e se esconde entre edredons e lençóis? Parte de você ficou preso naquele sonho, e não se engane, não são os bons sonhos os melhores carcereiros. Sonhos pesadelos também nos prendem, embora acordemos assustados antes que seu intento se cumpra e aliviados, agradecemos aos céus: “Ufa, graças a Deus foi só um sonho!” Se no sonho morreu alguém que amamos e se ao nosso lado está, ao alcance de nosso carinho, nos levantamos e o beijamos suavemente para que não acorde. Se está distante pedimos a Deus que o proteja e assim que possível, ligamos, fazemos uma visita, mandamos um e-mail. Mas, se contrariando toda regra sequer nos damos ao trabalho, pergunto novamente, o que espera a “vida” que eu faça? Porque ela continua seguindo seu rumo, não pausa para um descanso, nem fica no dobrar da esquina esperando por nós. ELA SEGUE, caminha e a cada passo dado, não soma comigo, apenas subtrai.

A vida não se deixa aprisionar em sonhos e embora “sonhar” revele-se um caminhar prazeroso ou assustado, temos que ter consciência de que acordar, é mais produtivo. Sonhas um dia realizar este ou aquele feito? Sonhas em fazer diferença neste vasto mundo? Como seria isto possível se no meu universo particular privilegio o individualismo e tenho dificuldades em influenciar para o bem comum? Durmo com sonhos filantrópicos, mas sequer olho para o mendigo que cruza meu caminho, sou incapaz de ajudar meu próximo e queixo-me da vida o tempo todo?

Alguns consideram-na implacável, vingativa, com um propósito obscuro, uma ladra de sonhos, pessoas, oportunidades. Constantemente ouvimos: “A vida me tirou tudo que tenho, vida isto, vida aquilo, vida bandida”. O que espera a “vida” que eu faça? Se cruzamos os braços e ao sabor das ondas vamos escorregando existência afora, não ficamos aquém de nós mesmos? Reféns de uma letargia que nos consome de forma quase imperceptível, em um belo dia o que vemos no espelho assusta, pois nem de longe assemelha-se com a imagem que carregamos na memória de quem um dia fomos. E agora? Dá para maquiar e disfarçar este alguém? Torná-lo menos rude, menos amargo, menos insatisfeito? Quem dera tivéssemos uma varinha de condão, e “Zis salabrim”, mudei enfim”. Lamentavelmente continuamos os mesmos, velhos hábitos, velhas esperanças, velhas atitudes, até percebermos que uma mudança é um projeto e como tal, programável em qualquer fase de nossa existência. O “Zis salabrim” a que me refiro, é a minha vontade, meu querer, minha necessidade.

O que espera a vida que eu faça? Felizes os que a consideram um presente de alto valor ( aqui me incluo) e por isto, objeto inestimável. Acordam ou melhor, despertam para mais um “mundo” de possibilidades, para um eu posso enxergar o que me cerca por um novo prisma, posso dar um novo tom para cores e notas desvanecidas, posso fazer frente às situações que ontem me intimidaram. Um despertar convicto, faz toda diferença!

Como é? Que música ouvi? Deixei-a de propósito para o final e cito alguns versos:

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir.”

Permita-se e na medida do possível, seja feliz!