quinta-feira, 16 de junho de 2011

Bem-vinda seja a crítica. Prefiro fazer, prefiro dizer, prefiro ser.


Por Vitalina de Assis.


"Para evitar a crítica, não faça nada, não diga nada, não seja nada". Elbert Hubbard.


Quero iniciar meu texto com este pensamento de Elbert Hubbard, filósofo que viveu no século 18 e mesmo pensado e escrito a tantos anos, ainda é regra para milhares e milhares de pessoas. Podemos argumentar e considerar que tal pensamento não se aplica mais nos dias de hoje, uma vez que parece impossível existir um ser que não queira pronunciar-se, fazer valer sua minoria, reivindicar seus direitos, “autonomizar-se". Este desejo está intrínseco no ser humano, todavia a crítica  poderá facilmente subjugar-nos, se a ela conferirmos tamanho poder.

Lendo nas entrelinhas do pensamento filosófico, é possível inferir:  “Para evitar a vida, não respire, não ame, não experimente”. Chegue ao final de seus dias visualizando saudosista uma vida transparente, não no sentido de integridade e caráter irrefutáveis, mas uma vida rasa em empirismo, um vácuo a adentrar na eternidade.

Viver comporta muitos riscos, dores e perdas e não deduza que minha concepção carrega nos ombros uma alma oprimida, infeliz, que enxerga a vida com cores gris, porque isto não é verdade. Desafio quem quer que seja a provar que a vida não comporta riscos e uma face, digamos, um tanto desafiadora. Uma oponente que nos instiga a tempo e fora de tempo a vencermos nossos limites superando críticas alheias que não condizem com a imagem que temos de nós mesmos, ou com a construção de nossos sonhos. O que vem a ser exatamente isto? Que imagem possuo de mim, ou do momento que vivencio?
  
Todas as manhãs  ao ir para o meu trabalho,  avisto um filhote de biguá que mergulha e se alimenta nas águas frias e infelizmente poluídas da lagoa da Pampulha. O que intriga-me ao observar este filhote é que ele  sempre  está só, e devo confessar que não foram poucas as vezes,  em que apiedei-me por sua situação ao imaginar seu atual “estado de abandono”. Em nossa cultura somos levados a crer que o que anda só, o que está sem um amor pareado ou uma família que lhe dê suporte sofre por esta circunstância. Triste engano, afirmarão milhares que vivem nesta condição e são felizes, bem resolvidos. Observei um pouco mais, tão pequena e solitária naquela imensa lagoa. Considerei o tamanho do seu universo e de suas muitas possibilidades de estar em qualquer trecho e da qual fazia uso livremente, uma vez que era possível vê-la em diferentes pontos em dias alternados, ou não vê-la.  Se dava ao luxo de ausentar-se de sua rotina previsível, possuía a liberdade de ir e vir, de estar ou não estar conforme seu absoluto querer. (Não inveje, copie! Mesmo que para isto gaste uma vida inteira.) 

Mergulhava por alguns segundos e era visível sua satisfação ao vir à tona com, ou sem seu alimento. Insistimos na superfície mesmo quando o mergulhar apresenta-se como a única forma de satisfação e resposta. Em águas rasas, mornas, rotineiras, jamais seremos capazes de ousar. A mesmice de todos os dias rouba-nos tesouros submersos, aprisiona nossos sonhos, inibe nosso querer.

Pequena em uma lagoa imensa! Enxerguei assim as inúmeras possibilidades de quem aventura-se a estar só. Não se dava conta da minha presença, da presença de outros pássaros, de sua “suposta solidão”, da falta de um bando. Pareceu-me extremamente feliz e bem ajustada. Não são assim milhares e milhares de pessoas por todo o mundo? A rede de Drogarias Araújo fez uma propaganda interessantíssima que provavelmente já assistimos dezenas de vezes e parte de seu slogan é o seguinte: Não existe padrão para caminhar...” Se não existe um padrão para caminhar, haja vista várias formas para se sair do lugar, porque então acreditar que só se é feliz aos pares?  Pode ser muito cômoda ou desconcertante esta associação. Mesmo um “eremita” que buscou esta condição de vida poderá atestar que está feliz com sua escolha.

A felicidade é um estado de espírito, um desejo consciente, algo que podemos elaborar mesmo em situações controversas. O que não promove a felicidade é acreditar que está no outro a condição “ser feliz”, aqui sim, reside um perigo eminente. Se atribuirmos ao outro, ou às circunstâncias a responsabilidade do “ser feliz”, qualquer “mero olhar desaprovador” seria o suficiente para lançar-nos nos braços da infelicidade. Felizmente a Sra. Felicidade não é tão mesquinha e condicionante e não se encontra distante, exilada em outro planeta além do nosso alcance. Ela habita no interior de cada ser vivo, seja ele uma ave que mergulha solitária em uma lagoa fria, ou em um ser inteligente e disposto a reverter qualquer situação que não lhe caia bem.

Hubbard acerta em cheio ao iniciar seu pensamento com uma possível receita para não sermos criticados, porém a que preço! Quantas críticas infelizes foram a causa de incontáveis abortos, e quantos não dariam um braço para se verem livres dela?  Entretanto, se o alto preço implica em nada fazer, nada dizer, um nada ser! Mil vezes bem vinda seja a crítica. Prefiro fazer, prefiro dizer, prefiro ser.


12 comentários:

  1. Olá, Vitalina!
    Bgda pela sua visita...
    Eu...Para contrariar...vou fazendo alguma coisa...nunca que eu vou evitar a crítica ;)
    Besito ;)

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  2. Bela reflexão.

    viver-conviver e deixar viver.

    Deixo um poema q adoro:

    Se nascemos para o amor
    Para a celebração não oficial da vida,
    não deixe, Deus, que eu me afogue
    nas emboscadas de meus dissídios.
    Venha a mim, a centelha exata que irradia,
    Cruza os pântanos
    E ilumina os párias.
    Um mundo, enfim,
    sem pedigree nem castas,
    sem cifras nem mágoas.

    Fernando Campanella

    Beijo Amiga.

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  3. O ser humano julga pela critica.
    Nem sempre a critica é justa.
    Com o tempo aprendemos a conviver com ela e a sermos mais educados na maneira como julgamos alguém ou aceitamos que nos julguem.

    Será de todo impossível fugir à critica.

    "É-se preso por ter cão ou por não ter cão"

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  4. Grande reflexão que comentei oportunamente e que não consegui que seguisse.
    Bji

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  5. Olá Vitalina!
    Agora vai dar sorte!
    Peço desculpa...não queria que pensasse que me esqueci.Vim aqui várias e neste, como noutros blogs, isto não está a funcionar.
    E em tempo, tinha deixado a minha opinião pela sua exposição que tem tanto de verdadeiro como de oportuno.
    De facto,se fazemos parte deste Todo, sujeitamo-nos às opiniões de outro nem sempre simpáticas e felizes..
    ...Depois a narrativa desse biguá! Como eu gostava de ser biguá...antes usufruir a calma do biguá com a minha mesmice...E continuava...se não fosse tão só um comentário!
    Um abraço querida e parabéns!

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  6. Sempre acreditei que a felicidade está na escolha, não na utilização dos padrões que a cercam. Não há receitas, não há caminhos pré-determinados, não há exemplos. O que é bom para um será o sofrimento para outro. Nossos passos, nosso caminhar tem que estar de acordo com nossa capacidade e nossas possibilidades. Que outros corram, quando preferimos passos curtos. Que outros nadem em espaços infinitos, quando preferimos a tranquilidade e calmaria de uma banheira. E viva as diferenças!!!!

    Bjs.

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  7. Olá.
    Penso que se alguém nada fizer, será criticado por isso...rssss
    Lembro de um programa da Discovery, sobre uma ilha, onde os pássaros praticamente não tinha inimigos naturais. Poderiams achar que era o paraiso, para eles. Mas com a chegada de um grupo de seres humanos, junto veio um (1) !!! gato. Um gato, apenas. Ele dizimou uma espécie de pássaro que habitava a tal ilha, pois a tal espécie não sabia como se defender, por levar uma vida pacata, sem sobressaltos.
    Conclusão: Vida agradável é uma vida mansa, sem maiores preocupações? Ou é necessária à vida uma dose de perigo?

    Abraço.

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  8. Hola César!

    Acredito que uma vida sem sobressaltos não caia bem nem para as formigas, haja vista o empenho e determinação que elas possuem.

    Critícas, as construtivas tem seu lugar e hora no nosso crescimento, isto é fato. As outras, as tais que nos magoam e querem nos prender em alguma mesmice diária, devem ser vistas como uma vara pronta a lançar-nos em um grande salto. Se necessário, aguardar a acessoria da sra. Coragem, ela virá com certeza.

    Uma vida sem maiores preocupações (os sábios ensinamentos) deve ser um tédio! Prefiro então fazer, dizer, ser.

    Inté!

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  9. Hola!!!
    La critica nos ayuda a ser mejores a perfeccionarnos, siempre que sea constructiva! Pero tampoco tenemos que ser tan severos con el prójimo. Gracias por compartir tus letras. Un abrazo desde España Galicia. Se muy feliz.

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  10. Ei amiga!

    Há críticas que mais parecem uma bomba nuclear, destroem tudo ao redor e suprimem a vida.
    Tenho horror a críticas deste porte.

    Bjs.

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  11. .


    Eu não sei que medo é esse
    que te rouba as vontades,
    que cala em sua boca o de-
    sejo do beijo e que esconde
    o seu corpo do calor do meu...

    silvioafonso






    .

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Beijos e até.